quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

MY BROTHER RAONI

Por Ezio Flávio Bazzo


Não são todos os finais de tarde que se pode encontrar o Monsieur Raoni (líder Caiapó) aqui pelo campus da Unb. Veio com sua trupe e trupes de outras tribos, todos camuflados de guerra, para decretar a interdição do projeto da usina em Belo Monte, lá no coração do Xingu que, segundo eles (e está na cara) causará um estrago fenomenal na floresta, em seus rios, animais e mistérios. O evento formal aconteceu na Fundação Darcy Ribeiro e foi um show de acusações contra a Dilma e o Lula (este, aliás, que depois da presidência virou professor e está dando umas conferências lá no continente africano). A mata, os córregos e a terra são nossas vidas! Dizia o representante de uma etnia. Foi seguido por outros que demonstraram a falácia que essa usina representaria, a ineficiência já comprovada em experiências semelhantes e as intenções subterrâneas desse projeto megalomaníaco e a serviço de organizações mafiosas. Classificaram os igarapés como as artérias da mata; mencionaram as mais de 300 pequenas ilhas que serão submersas; alertaram para o risco que a bestialidade sexual dos peões representaria para suas mulheres, seus filhos e filhas; profetizaram que o destino de milhares de indígenas e de ribeirinhos seria a miserabilização e a migração para as periferias e favelas urbanas etc., e em coro cuspiram sobre a sesta básica. Não somos gente que vive de sesta básica – esbravejou uma senhora índia. Houve até uma mulher encolerizada que apresentou-se como xamã guarani e que no meio de seu discurso feroz lançou maldições explicitas contra o engravatado representante do governo que estava lá e contra seus descendentes. A plateia delirava. Quando o clima ficava propício para um grande massacre ou pelo menos para um ato incendiário de imensas dimensões se ouvia no alto das arquibancadas aquele canto meio gregoriano e meio  xavantino de guerra: hohohu hohohu gogugiuuuugghofooo produzido por vinte ou trinta índios que com seus tacapes levantados pisoteavam o concreto empoeirado. Admito que sou emocionalmente vulnerável a esse tipo de coisas e que por pouco não me senti mais engajado que muitos dos próprios envolvidos... 

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