quarta-feira, 8 de junho de 2011

O NOBRE IDEAL DE DESPERTAR NOVAS CONSCIÊNCIAS


            Graças ao idealismo de Nina Rosa, nascia no ano de 2000 o Instituto Nina Rosa (INR), uma instituição sem fins lucrativos cujo foco principal tem sido, desde seu início, defender os animais e despertar para a responsabilidade que todos temos na preservação da natureza e de todas as espécies que a integram. Ao longo de uma década, o INR celebrizou-se, sobretudo, pela produção de filmes, como A Carne é Fraca e Fulaninho, o Cão que Ninguém Queria, campeões de acesso na internet, além de campanhas institucionais utilizadas em escolas e que tem alcançado milhares de jovens.  Nesta entrevista à Verbo 21, Nina Rosa, com a paixão e o envolvimento que a caracterizam, quando se trata de falar da causa que abraçou ainda bastante jovem, faz um apanhado de caminhada e de seus novos projetos em andamento.
         Angelo Mendes Corrêa: Desde quando vem seu trabalho como ativista pelos direitos dos animais e a idéia de criar o Instituto Nina Rosa?
         Nina Rosa: Comecei como voluntária em ONGs  de proteção animal e como protetora independente,  quando “acordei” para a necessidade de defender os animais, aos 50 anos de idade. Recolhia um animal em situação de risco, oferecia todos os cuidados necessários, anunciava–o para adoção em cartazinhos que distribuía com a foto dele e meu contato (ainda não havia internet) até conseguir um lar adequado para ele. Em seguida recolhia outro, e assim por diante. Ajudava na organização de congressos de bem-estar animal, fazia camisetas para vender e ajudar no tratamento de animais, enfim, agia como podia.
          Durante os seis anos que trabalhei assim, percebi que recolher animais e não educar a população era como enxugar gelo, pois sem informação e sem compaixão, as pessoas abandonavam cada vez mais animais pelos motivos mais fúteis, como mudança de residência, nascimento de um bebê humano, porque a cadela havia emprenhado, etc. E não sentiam a menor responsabilidade, acreditavam que “as protetoras” é que tinham que arcar com o resultado da sua negligência.
         Com essa percepção, senti que precisava trabalhar na raiz do problema, isto é, focar na educação e sensibilização de humanos quanto aos direitos dos animais, para prevenir maus-tratos e abandono.
         AMC: Historicamente, o homem tem agido de forma opressiva e utilitária em relação aos animais. É possível começar a mudar tal ação e criar novas consciências?
         NR: Creio que isso já está acontecendo.  Com a chegada da internet, a informação sobre a exploração animal - com imagens – pode chegar rapidamente a muitas pessoas que, ao conhecerem a realidade dos bastidores dos produtos e serviços que exploram animais, ficam indignadas e mudam conceitos e hábitos.
        AMC: Que motivos considera mais relevantes para abandonarmos o consumo da carne e dos demais produtos de origem animal em nossa alimentação? Há algum fundamento científico de que as proteínas animais são necessárias para a perfeita saúde humana?
         NR: O principal motivo é a não-violência contra os animais, contra nosso próprio corpo e contra a natureza.  Que outros motivos precisaríamos?
        Segundo médicos e nutrólogos atualizados, o consumo da carne não só é dispensável, como deve ser mesmo dispensado em prol da boa saúde do corpo humano. Logicamente, a pessoa que decide por uma alimentação sem carne deve procurar orientação nutricional, pois não deve simplesmente retirar a carne do cardápio sem incluir proteínas vegetais e cereais integrais, entre outros.  Em nosso instituto há orientação nesse sentido:  http://www.institutoninarosa.org.br/produtos-inr/69-a-carne-e-fraca
         AMC: A título de entretenimento humano, há séculos é comum o aprisionamento de animais em zoológicos.  Não é o momento de repensarmos tal prática?
         NR: Uma das justificativas dos zôos para sua existência é permitir que crianças conheçam de perto certas espécies animais. Só que nos zôos elas não conhecem verdadeiramente esses animais, pois confinados, seu comportamento natural é alterado, e na realidade eles se transformam em lamentáveis arremedos do que seriam em liberdade. Aprisionados, longe de seus verdadeiros habitats e de suas famílias, ficam tristes e deprimidos.
          Os visitantes, que ficam apenas alguns segundos em frente às suas jaulas, talvez não tenham olhos para ver. Mas é só se colocarem no lugar de um daqueles animais e imaginarem como seria viver sem nunca ter privacidade, sem poder escolher quando ou o que comer, com quem conviver, ficando ali expostos, sem entender por quê ou para que estão ali,  já que  jamais entenderiam que o motivo é alguns ganharem dinheiro às suas custas.
          AMC: Quanto aos fundamentos religiosos que procuram justificar o sacrifício de animais, julga pertinente a discussão para que sejam repensados?
         NR: Indispensável que se termine de uma vez por todas com essa matança em nome da religião. Não há justificativa para as barbáries que se cometem com animais (antigamente com jovens donzelas e crianças) em nome de deuses. O verdadeiro caminho espiritual é baseado no amor e na compaixão por todos os seres. Qualquer coisa diferente disso é exploração de animais e ignorância de humanos.
          AMC: O tráfico de animais ainda apresenta dados alarmantes em nosso país. A que atribui isso?
          NR: Atribuo à ganância e ignorância humanas. E também à miséria.  Falta educação, falta sentido de coletividade, cada um quer “se dar bem” do seu próprio jeito, sem pensar nas consequências que seus atos trarão para outros seres. Faltam exemplos de pessoas íntegras.
         AMC: O uso de animais para pesquisas em laboratórios também não merece questionamento ao tratarmos dos direitos dos animais
          NR: Esse horror deve ter fim, não só pelos animais, mas também pelas pessoas. Quem é que quer passar na pele um creme onde o principal ingrediente é a tortura de um animal? O problema é que poucos ainda têm conhecimento disso, porque não interessa às empresas produtoras que a sociedade fique ciente da crueldade que envolve seu processo de fabricação. Mas com o tempo, com o muito trabalho das pessoas que amam os animais e se importam com eles, com o avanço da tecnologia e com a evolução da espécie humana isso tem que mudar. Depende de nós, consumidores. Nós é que temos a força de exigir produtos éticos, sem crueldade embutida. Podemos boicotar os produtos que contém crueldade, seja com animais ou com trabalho escravo humano. Podemos ligar nos SACs das empresas, enviar emails declarando que queremos produtos não testados em animais e exigir leis que obriguem a constar dos rótulos e embalagens se aquele produto é testado em animais ou não. Outros países já fazem isso.
          Para quem quer se aprofundar no assunto indicamos: http://www.institutoninarosa.org.br/produtos-inr/naomataras
          AMC: Que autores e livros indicaria para aqueles que desejam rever posturas no tocante aos direitos dos animais e à instauração de uma nova ética no modo de lidarmos com eles?
          NR: São muitos, de vários gêneros, categorias e faixas etárias.  Alguns estão listados em nosso site na página http://www.institutoninarosa.org.br/indicacao-de-livros
          Indicamos fortemente também o vídeo VEGANA, uma animação de 55 minutos, para todas as idades, que abrange os temas abordados nesta entrevista e outros mais. Assista na página http://www.institutoninarosa.org.br/produtos-inr/380-vegana-dvd
           AMC: Como lidar com os interesses econômicos que estimulam a indústria do extermínio de animais para alimentação humana?
NR: Para equilibrar tanta ganância e falta de compromisso com nossa mãe Terra - a mais atingida por essa arcaica escolha alimentar- sugiro fazermos o contrário: cuidarmos para não fazermos parte de nada que prejudique os reinos animal, vegetal e mineral. Criarmos nosso próprio padrão, o padrão do bem geral, deixando para trás hábitos sanguinários que impedem nossa evolução - principalmente espiritual - como seres humanos.
          AMC: Quais são os novos projetos do INR e o que considera terem sido os pontos altos desde sua existência?
           NR: No momento o INR está trabalhando num livro de história em quadrinhos, que é a história do nosso filme em animação VEGANA, transformado em gibi. São vários episódios, cada um com um tema, e creio que será muito útil para a educação em valores nas escolas.
           Creio que os pontos altos dos 11 anos de existência do INR são: a produção o vídeo Fulaninho, o cão que ninguém queria, sobre a guarda-responsável de animais de estimação, utilizado por milhares de crianças do ensino fundamental e médio nas escolas públicas e particulares do Brasil afora, e o vídeo-documentário A Carne é Fraca, que tem transformado em vegetarianos incontável número de pessoas que, ao conhecerem a realidade dos abatedouros de animais, decidiram abolir a carne do cardápio.
           Angelo Mendes Corrêa é professor universitário e mestre em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo (USP)
FONTE:
         http://www.verbo21.com.br/v5/index.php?option=com_content&view=article&id=228:nina-rosa&catid=60:entrevista-maio-2011&Itemid=89

Nenhum comentário:

Postar um comentário