sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Diminuição da biodiversidade afeta diretamente a saúde dos seres humanos
Mater Natura


             Muitas vezes as pessoas perguntam: "Por que deveria me importar se uma espécie se extingue? Não é essencial para minha vida diária, não é?" Bem, de acordo com nova pesquisa publicada em 2 de dezembro na revista Nature, a resposta é “SIM”, a biodiversidade saudável é essencial para o bem-estar humano. Quando espécies desaparecem, doenças infecciosas surgem em seres humanos e em todo o reino animal; assim, extinções afetam diretamente nossa saúde e chances de sobrevivência como espécie.

                Segundo os pesquisadores, financiados pela Fundação Nacional de Ciência e pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, a perda de espécies em ecossistemas como florestas e campos resulta no aumento de agentes patógenos, ou seja, aqueles capazes de disseminar doenças nos hospedeiros. 

                 Segundo os autores do estudo, os animais, as plantas e os micróbios mais suscetíveis à extinção são justamente os que protegem da transmissão de doenças. Já os menos ameaçados geralmente abrigam agentes infecciosos que podem afetar a saúde humana, como o hantavírus, o vírus do oeste do Nilo e a doença de Lyme, transmitida pela picada de alguns carrapatos. “Nós já sabíamos de casos específicos nos quais o declínio da biodiversidade aumentou a incidência de doenças. Mas descobrimos que esse é um padrão muito mais geral: a perda da biodiversidade tende a aumentar a transmissão de patógenos por meio de uma grande rede”, disse Felicia Keensing, ecóloga do Bard College, em Nova York, e principal autora da pesquisa. Essa rede envolve diversos agentes – vírus, bactérias e fungos – e variados hospedeiros, sejam eles homens, outros animais ou plantas.

                A biodiversidade global tem caído drasticamente desde os anos 1950. Estima-se que as taxas atuais de extinção são 100 a mil vezes maiores que no passado, e as projeções são ainda menos animadoras. Acredita-se que, nos próximos 50 anos, serão milhares de vezes mais altas. Com a expansão populacional humana, aumentou o contato com patógenos, por meio de atividades como a caça selvagem ou as queimadas nas florestas. “As mudanças globais estão acelerando e trazendo consequências indesejáveis. Esse artigo demonstra os riscos dessas mudanças”, comentou Sam Schneiner, diretor do programa de ecologia da Fundação Nacional de Ciência dos Estados Unidos, em nota à imprensa.

            O aumento das doenças e outros patógenos parece ocorrer quando as chamadas “espécies-tampão” desaparecem. O coautor da pesquisa, Richard Ostfeld, do Instituto Cary de Estudos do Ecossistema aponta para o crescente número de casos da doença de Lyme nos seres humanos como um exemplo de como isso ocorre. Os gambás nos Estados Unidos estão em baixa por causa da fragmentação de habitats florestais. Os marsupiais são hospedeiros do patógeno que causa a doença de Lyme e também podem se defender melhor dos carrapatos de patas negras que carregam a a doença aos seres humanos. Eliminado o hospedeiro natural, os carrapatos procuram novos, tais como os seres humanos.

             Outro caso bem documentado é o da hantavirose, uma zoonose emergente em todo o mundo. A doença, transmitida por roedores, causa problemas severos à saúde humana, e pode mesmo levar à morte – os índices de mortalidade decorrentes do mal são estimados em 40%. O vírus infecta os roedores por meio de saliva, urina e fezes. Já a transmissão para humanos ocorre pela inalação das secreções ou por mordidas. No início de 2010, a doença matou cinco pessoas no Distrito Federal. Em cinco meses, o número foi maior do que o registrado em 2009. Além disso, a taxa de letalidade foi alta: 83,3% dos pacientes que contraíram a doença morreram.

             Um estudo de campo no estado americano de Oregon mostrou que a única variante significativa ligada à prevalência da infecção era a diversidade de pequenos mamíferos. Quanto maior o declínio, maiores as taxas de ratos infectados. O resultado foi semelhante a de pesquisas realizadas no estado norte-americano de Utah e no Panamá.

           Segundo Felicia Keensing, já há provas suficientes de que, para patógenos já estabelecidos em comunidades ecológicas, a perda da biodiversidade aumenta frequentemente a taxa de transmissão. Porém ela lembra que os ecossistemas também desempenham um papel no processo de proliferação de novos agentes patógenos. De 1940 a 2004, mais de 300 doenças emergentes foram identificadas em humanos em todo o planeta. “Concomitantemente, outras novas infecções também começaram a aparecer na vida selvagem, em animais domésticos e em plantas. As doenças emergentes infecciosas incluem aquelas nas quais o patógeno desenvolveu uma nova linhagem ou começou a atacar novos hospedeiros”, diz a pesquisadora.

             Ela explica que, para patógenos que migraram para novas espécies hospedeiras, o processo envolve muitos passos – da invasão inicial ao estabelecimento do micro-organismo na espécie como um todo. “O efeito da biodiversidade pode variar em cada um desses passos. Na invasão inicial, essa variável talvez não seja tão importante”, diz Felicia.

                 Ao mesmo tempo, a pesquisadora lembra que diversos estudos correlacionam fatores ambientais e socioeconômicos ao aparecimento de novos patógenos. “São questões como o desflorestamento e a caça de animais selvagens. Essas atividades aumentam o contato entre humanos e animais, o que pode ser um fator crítico por trás do mecanismo que faz com que um patógeno encontra novo hospedeiro”, afirma.

                 Felicia diz que o artigo publicado na Nature é mais um alerta para a necessidade de se proteger a biodiversidade. “Está claro que precisamos implementar políticas de preservação o mais rápido possível. Isso poderia reduzir a disseminação de doenças da vida selvagem para os humanos”, defende. “Quando a diversidade biológica declina e o contato com os homens aumenta, você tem uma receita perfeita para a deflagração de doenças infecciosas.”

            Os pesquisadores também concluíram que os seres humanos e a vida selvagem realmente não devem interagir. O contato direto com animais selvagens, digamos, sob a forma do comércio ilegal da carne ou como “pets”, pode causar doenças desconhecidas em humanos. 

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