quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Abolicionismo Animal

Parece estranho, à primeira vista, ligar a palavra “abolicionismo” à palavra “animal”. Abolicionismo no Brasil é um termo ligado sempre à princesa Isabel, ao 13 de maio de 1888 e à Lei Áurea. Até hoje existem formas de escravidão humana no Brasil: em fazendas, no tráfico sexual etc. Tudo fora da lei e reprimido quando descoberto. Mas tudo isso se torna pequeno perto da verdadeira escravidão – legalizada – de nossos tempos.
O que o homem já fez de ruim com escravos humanos não chega perto dos horrores do que fazemos com os animais. Escravos negros trabalhavam forçados em fazendas até o fim do século 19. Apanhavam se desobedeciam ordens. Isso já é ruim o suficiente. Mas esses homens não eram brutalmente mortos para servir de alimento. Não eram obrigados a se exibir em rodeios para bêbados sádicos. Não passavam suas vidas em gaiolas sendo inoculados com doenças para pesquisas médicas. Não tinham a pele arrancada ainda em vida para virar um casaco.
Escravidão é uma palavra fraca para o que fazemos aos animais. Eles estão um degrau abaixo: são objetos. O filósofo René Descartes afirmava no século 17 que animais eram mecanismos que não sentiam dores nem emoções. Hoje sabemos que isso é falso. O que não impede que a gente os trate como geringonças ou pedaços de carne para nosso deleite.

O abolicionismo animal é uma corrente mais recente de pensamento e militância que pretende livrar nossos colegas de fauna da escravidão. O que significa isso? Não comer nenhum produto de origem animal, não usar animais para nossa diversão nem para nossas pesquisas científicas, nem para nossa vestimenta etc.
Isso é justo? É utópico demais? Depende do ponto de vista de cada um. É possível viver sem comer bois, peixes, ovos? Sim, perfeitamente. Podemos viver sem domadores de circos, touradas e farras do boi? Sem a menor dúvida. É possível fazer a pesquisa científica avançar sem experimentos com cobaias animais?
Cientistas costumam dizer que cobaias são absolutamente indispensáveis ao progresso humano. São mesmo? Não seria possível (e muito mais eficaz) realizar esses experimentos com voluntários humanos? Ou incrementar as simulações de experiências por computador? É justo causar sofrimento e morte dos que não têm nada a ver com as doenças que nós mesmos criamos? É justo provocar uma cirrose hepática num chimpanzé para aprender a lidar com nosso alcoolismo?
Em outras áreas a questão fica mais polêmica. Por exemplo: animais expostos num zoológico são escravos? Alguns dizem que sim. Outros consideram que num zôo (desde que tratados com respeito), os animais se tornam “embaixadores” do reino animal. Para que os humanos os conheçam mais de perto e se identifiquem com os demais representantes do reino natural a que todos pertencemos.
Alguns abolicionistas mais “extremistas” acham que até a criação de um cão ou gato em casa é uma forma de escravidão. O que sem dúvida acontece se você mantém seu cachorro acorrentado numa casinha suja para espantar ladrões. Mas o gatinho que dorme ao pé de sua cama é tratado como um filho e pede um carinho de vez em quando é um escravo?
O abolicionismo animal é uma das causas prioritárias do século que se iniciou há tão pouco tempo. Essa causa vai definir nossos parâmetros morais mais básicos e nossas possibilidades de criar uma sociedade realmente civilizada.








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