terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Abolição do Especismo - Nazareth Agra

Gaúchos amam e matam animais

           É bem verdade que no resto do Brasil não é muito diferente. Em toda parte do país, os mais básicos direitos animais são desrespeitados, enquanto a consciência sobre a existência dos mesmos não avança como em outros lugares.
          A região da Catalunha (Espanha) recentemente viu aprovada a lei que abolirá do seu território as tradicionais touradas. O conceito de tradição é frequentemente evocado para garantir espetáculos como rodeios, corridas e provas em que animais são subjugados na sua vontade para garantir diversão a participantes. Ora, tradição alguma é imutável, sendo, para Montesquieu, a ignorância a mãe de todas as tradições. Para o músico Ravel, a tradição seria a personalidade dos imbecis.
           A tradição tem sua origem na necessidade de se manter um nexo entre as gerações. Hoje, este nexo é mantido pela cultura acumulada e seus infindáveis meios de divulgação e reprodução. O entendimento vigente sobre tradição é de que devemos rechaçar toda tradição que se oponha aos direitos básicos dos atingidos e por isso não aceitamos mutilação genital feminina, apedrejamento por adultério, legítima defesa da honra como argumento a favor de assassinos. Sempre que nos contrapomos a práticas que um dia foram consideradas naturais, expandimos nossos horizontes morais. E isso é tanto mais difícil quando implica mudança em hábitos e comportamentos.
           Em relação aos animais, o que se chama tradição, em grande parte das vezes, são negócios, que se apoiam em tal argumento. Por trás do espetáculo, estão os interesses econômicos apoiados na fragilidade reflexiva e argumentativa da população.
             Por mais que ativistas dos direitos animais tentem levar uma nova consciência ambiental e uma nova moral que expande aos demais seres sencientes noções de direitos, ainda é o negócio que prevalece. Se a maioria de nós rejeita touradas, farra do boi, rinhas de galo, se ficamos chocados com o contrabando de animais silvestres, se nos indignamos com o crime de arrastar uma cadela presa ao para-choque de um automóvel, não fazemos o mesmo com o embarque de gado vivo que viaja mais de 30 dias em navio-curral de seis andares, comprimido e submetido às piores condições, não fazemos o mesmo com os rodeios, não nos importamos com o estresse e a condição de coisas e mercadorias dos animais da Expointer e não nos chocamos que o Centro Histórico da capital se transforme numa imensa churrasqueira nos dias de acampamento farroupilha. A alguns animais, compaixão, cuidados e proteção; a outros, confinamento e morte.
            No nosso atual estágio civilizatório frequentemente apelamos, nos nossos juízos de valor, para a noção de inocência, a ausência de culpa. De todos os seres que devem ser poupados de injustiça e de sofrimento, elegemos como prioritários os inocentes. Um ato que causa dor e morte, um latrocínio, por exemplo, nos choca mais quando tem como vítima quem nunca provavelmente desejou ou fez mal a outros, o que configura um inocente. Se adotarmos a inocência como parâmetro, o que pensaríamos dos animais, incapazes de qualquer projeto de maldade?
            Outro conceito, a senciência, noção que nos une a outras espécies animais, diz respeito à capacidade de sofrer ou sentir prazer. Daí Jeremy Bentham, jurista fundador da escola reformista utilitarista, ter afirmado: a questão não se refere a se eles são capazes de raciocinar ou falar, mas sim se eles são capazes de sofrer.
            Já que cães, golfinhos, bichos-preguiça, ursos-panda apresentam as mesmas capacidades da senciência e de inocência que porcos, galinhas, ovelhas e bois, onde, afinal, residiria a diferença de tratamento que lhes dispensamos? Por que protegemos, respeitamos, mimamos alguns animais e a outros, mesmo existindo alternativas alimentares saudáveis, dispensamos o pior dos tratamentos ao fim dos quais lhes reservamos a morte? Por que a uns tentamos garantir reservas ambientais e outros  submetemos a exposições, provas de velocidade e resistência, para diversão?
          É de lamentar que o Rio Grande do Sul ainda não se proponha a reverter a realidade dos seus conterrâneos, os quais oprime e mata, mesmo sendo inocentes e mesmo sem haver qualquer necessidade.
FONTE:

Um comentário:

  1. ma lenda indígena, descrita por Alcides Gatto, da Universidade Federal de Santa Maria, indica como começou o uso da erva mate. A mais antiga aponta para a trajetória de uma tribo nômade de índios guarany. Um dia, um velho índio, cansado das andanças, recusou-se a seguir adiante, preferindo ficar na tapera. A mais jovem de suas filhas, apesar do coração partido, preferiu ficar com o pai, amparando-o até que a morte o levasse à paz do Yvi-Marai, a seguir adiante, com os moços de sua tribo.

    Essa atitude de amor rendeu-lhe uma recompensa. Um dia um pajé desconhecido encontrou-os e perguntou à filha Jary o que é ela queria para ser feliz. A moça nada pediu, mas o velho pediu ‘renovadas forças para poder seguir adiante e levar Jary ao encontro da tribo’.
    O pajé entregou-lhe uma planta muito verde, perfumada de bondade, e o ensinou que, plantando e colhendo as folhas, secando-as ao fogo e as triturando, devia colocá-las num porongo e acrescentar água quente ou fria. ‘Sorvendo essa infusão, terás nessa nova bebida uma nova companhia saudável mesmo nas horas tristonhas da mais cruel solidão’. O ancião se recuperou, ganhou forças e viajou até o reencontro de sua tribo.
    Assim nasceu e cresceu a caá-mini, que dela resultou a bebida caá-y, que os brancos mais tarde chamaram de chimarrão. A origem do nome mate vem do povo espanhol, que preferiu usar a palavra ‘mati’ (cuia), da língua quíchua, para se ajustar melhor à modalidade grave do idioma. No entanto, logo foi substituída por uma palavra guarany – caiguá – nome composto por caá (erva), i (água) e guá (recipiente).

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