sexta-feira, 12 de agosto de 2011


Percepção ambiental pela vida

Cláudio Tarouco de Azevedo*
Educador Ambiental

          Nesta semana, presenciei uma brutalidade que podia ser evitada. Quarta-feira, em torno de 9h, eu aproximava-me da Escola Municipal de Ensino Fundamental Mate Amargo, pela ERS-734, no sentido Rio Grande - Cassino. Estava de moto e avançava a 50 Km/h, velocidade máxima permitida no trecho da rodovia. Em torno de 100 metros à minha frente, seguia um carro em velocidade consideravelmente superior ao permitido. Ainda que não fosse horário de fluxo intenso de crianças, estávamos quase na frente de uma escola. Afinal, deve haver um sentido em estabelecer distintas velocidades ao longo de uma rodovia.
        Eis que, naquela circunstância, avisto dois cães pretos cruzarem a pista na frente do carro. Logo reduzi a velocidade e pensei que poderiam aparecer outros, geralmente eles andam em grupos. O motorista a minha frente continuou na mesma velocidade. Quero acreditar que ele estava desatento ao trânsito. Veja bem, trânsito é a movimentação de corpos no espaço, em distintos lugares, com variações temporais entre estes corpos. Trânsito não é uma perspectiva unilateral e egoísta, determinada por interesses antropocêntricos.
       Neste trânsito, logo procurei observar se outros animais humanos e não humanos estariam pelas proximidades da estrada, afinal precisamos ter a consciência do quanto nossos veículos automotores tornam vulneráveis os demais corpos. Esse entendimento é fundamental para a possibilidade de cuidado com a vida, quer seja de humanos e/ou não humanos. Esse cuidado nos possibilita um exercício de percepção ambiental. É preciso usar mais intuição para criar desvios em direção a preservação e valorização das diferentes manifestações de vida.
        Um olhar atento pode evitar sofrimento e dor. Se eu avistei a cena dos cães cruzando a pista, provavelmente, e quero acreditar nisso, o motorista do carro também deve ter percebido, ou deveria. O que lhe possibilitaria diminuir a velocidade e até evitar o sangue e a dor do pequeno cachorrinho, o terceiro a cruzar a pista. Mas, após o fato, o carro seguiu na mesma velocidade, em um trecho em que a máxima permitida é de 50 Km/h, em frente a uma escola de ensino fundamental. Grande parte dos alunos dessa escola são crianças.
      O exercício da percepção ambiental está implicado nessa ideia de cuidado com a vida. E a vida do pequeno animal é tão importante como a nossa. O sinal de desprezo a ela evidencia nossa própria falta de humanidade. Nessa perspectiva, podemos pensar que, se fosse uma criança, o carro seguiria na mesma velocidade? A humanidade não está no homem, mas na capacidade humana de se sensibilizar.

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