quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

WikiLeaks revela que EUA pressionam União Europeia contra vetos aos transgênicos

U.S. threatens to retaliate against the EU in defense of GMOs
Texto do governo divulgado pelo WikiLeaks recomenda criar lista de países para “retaliação”
Documentos vazados relatam ações tomadas pelas embaixadas americanas em locais como Paris e Vaticano
A Embaixada dos Estados Unidos em Paris aconselhou Washington a iniciar uma guerra comercial contra qualquer país da União Europeia que se oponha a safras geneticamente modificadas, de acordo com documentos divulgados pelo WikiLeaks.
No final de 2007, a França tomou medidas para proibir uma variedade de milho transgênico que foi criada pela Monsanto. Em resposta, o embaixador, Craig Stapleton, amigo e antigo sócio do ex-presidente George W. Bush, solicitou que Washington punisse a União Europeia. Reportagem de John Vidal, em The Guardian.
“A equipe nacional de Paris recomenda que calibremos uma lista de alvos para retaliação que cause incômodo à União Europeia, já que se trata de um caso de responsabilidade coletiva, mas que também se concentre ao menos em parte nos principais culpados”, diz o texto.
“Caminhar na direção da retaliação deixará claro que o caminho atual tem custos reais para os interesses da União Europeia e pode ajudar a reforçar as vozes favoráveis à biotecnologia na União Europeia”, afirmou Stapleton no documento.
Ele foi sócio de Bush no Texas Rangers, time de beisebol profissional sediado em St. Louis, nos anos 1990.
IGREJA
Como muitos bispos católicos em países em desenvolvimento são adversários veementes dos transgênicos, os Estados Unidos pressionaram assessores do papa.
Documentos da embaixada americana no Vaticano indicam que os EUA acreditam que o papa seja favorável às safras geneticamente modificadas, depois de lobby junto a assessores da Santa Sé, mas expressam pesar por ele não ter dado esse apoio publicamente.
“Existem oportunidades de pressionar o Vaticano quanto à questão e assim influenciar vasto segmento da população na Europa e nos países em desenvolvimento”, diz outra mensagem.
Mas também houve revezes: a embaixada norte-americana descobriu que seu mais estreito aliado no assunto, o cardeal Renato Martino, presidente do Conselho Pontifical de Justiça e Paz e o principal representante do papa nas Nações Unidas, havia retirado o apoio aos EUA.
“Um assessor de Martino nos disse recentemente que o cardeal havia cooperado nos dois últimos anos com a embaixada no Vaticano sobre biotecnologia, em parte para compensar sua desaprovação aberta à Guerra do Iraque. De acordo com nossa fonte, Martino abandonou essa abordagem”, diz o texto.
ESPANHA
As mensagens também demonstram que diplomatas norte-americanos trabalhavam diretamente para empresas produtoras de organismos geneticamente modificados, como a Monsanto.
“Em resposta a recentes solicitações urgentes do secretário de Estado Josep Puxeu [ministro espanhol dos assuntos rurais] e da Monsanto, o posto requer apoio renovado do governo dos Estados Unidos à biotecnologia agrícola de base científica na Espanha, por meio de intervenção de alto nível do governo norte-americano.”
Os documentos revelam também que Espanha e Estados Unidos trabalharam em estreita cooperação para persuadir a União Europeia a não reforçar suas leis quanto à biotecnologia. Um documento da Embaixada dos EUA em Madri afirma que “caso a Espanha caia, o resto da Europa cairá”.
Os documentos demonstram que não só o governo espanhol solicitou aos Estados Unidos que mantivessem sua pressão sobre Bruxelas mas que os norte-americanos sabiam com antecedência como a Espanha votaria, mesmo antes que a comissão espanhola de biotecnologia apresentasse seu relatório.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
Reportagem no The Guardian, publicada pela Folha de S.Paulo.
EcoDebate, 06/01/2011
FONTE:

Multas não impedem crimes ambientais, artigo de Maurício Gomide Martins

        Os burocratas do Brasil, como sempre, continuam a malhar em ferro frio para as situações ecológicas que pedem rapidez e toda atenção. De outro lado, as empresas destrutivas do ganha-ganha que só agem na ilegalidade, por serem muito lucrativas, continuam a sorrir de satisfação e levam uma vida mansa e despreocupada quanto às conseqüências legais de seus atos que, na prática, é nenhuma.
        Um célebre político mineiro, falando sobre a eficiência na administração pública, disse que “não basta despachar o papel; é preciso resolver a questão”. Pura teoria, para enganar eleitores.
         A estrutura burocrática governamental se assenta no princípio, já consagrado e sedimentado no subconsciente do servidor, em todos os níveis, de que o importante em suas funções é justamente o de despachar o papel. Não importa que haja na natureza plantas com folhas de cor amarela ou vermelha. Se a instrução normativa, gerada com base em lei e vinda de nível hierárquico superior, diz que todas as folhas devem ser verdes, esse papel recebe uma carimbada inapelável de “negado”.
       No exercício da função pública, geralmente a capacidade intelectual se atrofia pelo não uso. Pensar? Seria um sacrilégio, uma grave insubordinação. Pensar para quê? A lei diz tudo sobre um determinado assunto! A gênese desse estado mental se parece muito com os mecanismos de formação dogmática na crença religiosa: começa com a renúncia da aptidão mental.
       Nesse oceano burocrático, o “certo” é não assumir responsabilidade alguma, exceto quando a bolada de dinheiro vivo da corrupção seduz os olhos e os bolsos dos gananciosos. Dependendo do volume, até ministros se deixam apaixonar pelo metal sonante. Mas isso é considerado um “desvio de comportamento” e ocorre apenas “eventualmente, no correr de cada semana”. Realmente, é um desvio de padrão.
          Mas, em condições normais entre os subalternos, a consciência dorme tranqüila em berço esplêndido, e os carimbos fazem a sua dança formal e legal. Isso garante a estabilidade no emprego e, involuntariamente, a consolidação burocrática do trabalho inútil e improdutivo. Submissão à lei é a expressão chave para se compreender a situação de fato e de espírito vigente no Brasil. A lei é soberana e é quem manda. Lei é lei, e pronto. Em outra ocasião, falaremos especificamente sobre a lei, essa caixinha de segredos.
          Os magistrados despacham com vistas à lei, não à justiça, à consciência, à lógica. Lei mandou? Cumpra-se. Esses augustos servidores públicos servem à sua deusa vendada, tranquilamente, e vão para o repouso do lar com a consciência em paz.
          As leis em geral prevêem uma multa a ser aplicada pelo agente fiscalizador para a entidade que agir em desacordo com elas. Numa dessas ações, registrando leis, parágrafos, itens, artigos, alíneas letras e demais filigranas, a multa é lavrada em papel adequado e entregue contra recibo ao responsável pela infração. Geralmente são muito elevadas, fora da capacidade de pagamento do infrator. Pronto. O Poder Público cumpriu sua parte e se deu por satisfeito. Não resolveu o problema, mas cumpriu a lei, despachou o papel e lavrou a multa
        O agente público sabe que essa penalidade jamais será paga, mas isso não importa. Cumpriu a lei, que manda punir com o instrumento adequado. Sua consciência está em paz consigo e perante seu chefe de repartição.
         A empresa penalizada, quando da formação da sua estrutura, prevenida, já se munira da defesa adequada e formou um departamento jurídico a quem é entregue o documento do ônus. É aquela história… Entrou na área jurídica, não sai nunca mais. A função do causídico da empresa compreende dois objetivos: Contestar, obtendo o cancelamento do gravame ou sua redução para valor ridículo, e – o mais importante – procrastinar ”ad perpetuam” o encerramento do processo.
          O governo também tem seu departamento jurídico, e as partes vão se embaraçar numa maçaroca formada, perante os tribunais, pelas vielas tortuosas, espíritos virtuais e interpretações malévolas das leis. Esse é um processo trabalhoso, demorado, com mil possibilidades de recursos de toda ordem, dentro de um segmento de tempo cósmico. Até que um dia, o processo simplesmente some no meio de outros milhões de casos pendentes. Pronto. Eis o efeito da multa.
         Acontece que o punido, tomando as medidas legais que a situação exige, está livre para continuar a agir predatória, ilegal e lucrativamente, sem ser incomodado. O máximo que lhe pode acontecer é receber nova multa. Ora, tão inofensiva e sem efeito prático quanto a primeira. Pode até colecionar multas. É a mesma coisa. O importante para ele é não ser obstado em sua atividade lucrativa. Continua a destruir florestas, envenenar rios, caçar animais silvestres, derramar petróleo nos mares, e milhares de eventos criminosos. Enquanto isso, a Natureza vai sendo dilapidada, empobrecida e ficando cada vez mais anêmica.
         Resumo da história: o Poder Público cumpre seu dever de zelar pela preservação do planeta, o criminoso continua a destruir e poluir, a sociedade é informada das ações “saneadoras e moralizadoras” do governo. E o ecossistema continua a ser ignorado.
         Não importa se a lei é imoral ou ilegítima. Sendo lei, ela passa a ocupar o pedestal supreme situação que a torna sacrossanta. Mas um fato está acima de qualquer convenção social: a reação da Natureza. Ela desconhece leis, acordos, ética, compaixão, justiça, e todas as normas humanas. Ela também cumpre leis supremas que não foram elaboradas por humanos, as leis da Natureza. Essas, sim, vêm de uma força sobrenatural e as penalidades são severas, imediatas e irreversíveis.
         Temos notícias de aplicação de multas todos os dias. Isso é fartamente noticiado. Tornou-se rotina. Nunca vimos informação de que tais gravames tenham sido pagos. Talvez estejamos mal informados a respeito.
           Nesses casos de atividades prejudiciais para o meio ambiente, se o governo agisse rigorosamente, com ações efetivas e sem observância dos melindres da lei, tais procedimentos teriam resultado imediato e exemplar.
         Invertendo as posições, ficaria a cargo dos punidos o recurso de apelar para as leis e suas complicações intermináveis. O ecossistema agradeceria imensamente.
Maurício Gomide Martins, 82 anos, ambientalista e articulista do EcoDebate, residente em Belo Horizonte(MG), depois de aposentado como auditor do Banco do Brasil, já escreveu três livros. Um de crônicas chamado “Crônicas Ezkizitaz”, onde perfila questões diversas sob uma óptica filosófica. O outro, intitulado “Nas Pegadas da Vida”, é um ensaio que constrói uma conjectura sobre a identidade da Vida. E o último, chamado “Agora ou Nunca Mais”, sob o gênero “romance de tese”, onde aborda a questão ambiental sob uma visão extremamente real e indica o único caminho a seguir para a salvação da humanidade.
Nota 1: o livro “Agora ou Nunca Mais“, está disponível para acesso integral, gratuito e no formato PDF, clicando aqui.





EcoDebate, 06/01/2011
FONTE:

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Leopardo Fêmea & Bebê Babuíno!

Abolicionismo Animal

Parece estranho, à primeira vista, ligar a palavra “abolicionismo” à palavra “animal”. Abolicionismo no Brasil é um termo ligado sempre à princesa Isabel, ao 13 de maio de 1888 e à Lei Áurea. Até hoje existem formas de escravidão humana no Brasil: em fazendas, no tráfico sexual etc. Tudo fora da lei e reprimido quando descoberto. Mas tudo isso se torna pequeno perto da verdadeira escravidão – legalizada – de nossos tempos.
O que o homem já fez de ruim com escravos humanos não chega perto dos horrores do que fazemos com os animais. Escravos negros trabalhavam forçados em fazendas até o fim do século 19. Apanhavam se desobedeciam ordens. Isso já é ruim o suficiente. Mas esses homens não eram brutalmente mortos para servir de alimento. Não eram obrigados a se exibir em rodeios para bêbados sádicos. Não passavam suas vidas em gaiolas sendo inoculados com doenças para pesquisas médicas. Não tinham a pele arrancada ainda em vida para virar um casaco.
Escravidão é uma palavra fraca para o que fazemos aos animais. Eles estão um degrau abaixo: são objetos. O filósofo René Descartes afirmava no século 17 que animais eram mecanismos que não sentiam dores nem emoções. Hoje sabemos que isso é falso. O que não impede que a gente os trate como geringonças ou pedaços de carne para nosso deleite.

O abolicionismo animal é uma corrente mais recente de pensamento e militância que pretende livrar nossos colegas de fauna da escravidão. O que significa isso? Não comer nenhum produto de origem animal, não usar animais para nossa diversão nem para nossas pesquisas científicas, nem para nossa vestimenta etc.
Isso é justo? É utópico demais? Depende do ponto de vista de cada um. É possível viver sem comer bois, peixes, ovos? Sim, perfeitamente. Podemos viver sem domadores de circos, touradas e farras do boi? Sem a menor dúvida. É possível fazer a pesquisa científica avançar sem experimentos com cobaias animais?
Cientistas costumam dizer que cobaias são absolutamente indispensáveis ao progresso humano. São mesmo? Não seria possível (e muito mais eficaz) realizar esses experimentos com voluntários humanos? Ou incrementar as simulações de experiências por computador? É justo causar sofrimento e morte dos que não têm nada a ver com as doenças que nós mesmos criamos? É justo provocar uma cirrose hepática num chimpanzé para aprender a lidar com nosso alcoolismo?
Em outras áreas a questão fica mais polêmica. Por exemplo: animais expostos num zoológico são escravos? Alguns dizem que sim. Outros consideram que num zôo (desde que tratados com respeito), os animais se tornam “embaixadores” do reino animal. Para que os humanos os conheçam mais de perto e se identifiquem com os demais representantes do reino natural a que todos pertencemos.
Alguns abolicionistas mais “extremistas” acham que até a criação de um cão ou gato em casa é uma forma de escravidão. O que sem dúvida acontece se você mantém seu cachorro acorrentado numa casinha suja para espantar ladrões. Mas o gatinho que dorme ao pé de sua cama é tratado como um filho e pede um carinho de vez em quando é um escravo?
O abolicionismo animal é uma das causas prioritárias do século que se iniciou há tão pouco tempo. Essa causa vai definir nossos parâmetros morais mais básicos e nossas possibilidades de criar uma sociedade realmente civilizada.








A VIDA ASSASSINADA

Artigo de Sônia Felipe

         Animais de outras espécies que não a humana nascem nas mesmas condições materiais humanas: para viver é preciso que tenham o cordão umbilical, que os liga à placenta da qual recebem os nutrientes durante a gestação, cortado. Sem o corte, essa ruptura que joga o bicho imediatamente na consciência da realidade, o mesmo que a consciência da falta de algo, não há possibilidade de se configurar um indivíduo, seja lá de que espécie animal for. Nesse sentido, ser trazido em gestação até o momento do nascimento é ser condenado à ruptura do canal pelo qual fluem os nutrientes do mundo exterior. Humanos e animais nascem nessa condição ambígua: para se tornarem indivíduos autônomos precisam deixar de depender de um provimento mágico. A liberdade significa cortes. O primeiro afastamento da mãe, dado pela ruptura ou corte do cordão umbilical, dá ao neonato a primeira experiência real do mundo biológico e material no qual terá que aprender a viver. Embora seja uma experiência dolorosa, quem não passa por ela não chega à vida. Todos os animais nascem, portanto, iguais. E sua condição é igualmente trágica: se querem ser nutridos, não se tornarão indivíduos. Se querem ser indivíduos, precisam aprender a interagir para obter a nutrição sem precisar matar ou destruir quem está na mesma condição.
          Morrer, no entanto, ocorre de modo bastante inverso, caso a morte não venha de forma intempestiva pela mão de outrem, num corte abrupto do ritmo do viver ainda pleno de força. Morrer, repito, é deixar de respirar quando já se respirou o bastante para manter a chama da vida plena em todas as células que compõem os tecidos que formam os órgãos dos diversos sistemas que dão a configuração do organismo. A manutenção da vida, para todos os animais, representa uma tarefa que precisa ser assumida individualmente. Todos os animais buscam os meios de manutenção de suas vidas de modo autônomo, exceto os que são forçados ao nascimento no sistema industrial de confinamento completo que supre os mercados da carne, ovos e laticínios (embora muitas vacas sejam mantidas em liberdade restrita, em cercados a céu aberto).
          Quando tiramos a liberdade física do animal, à qual Steven Wise denomina autonomia prática, mantemos seu corpo em nosso poder, e eliminamos dele o espírito do qual ele é dotado para prover-se em liberdade. Manter  um animal confinado destrói seu espírito. Prover um animal com rações artificiais, oferecendo-lhe algo com o mesmo sabor, cheiro, consistência e ingredientes “balanceados”, todos os dias de sua vida, implica liquidar com o espírito, a consciência, o conhecimento, as percepções e os conceitos de sua mente que o mantinham vivo. Forçar animais a nascerem em cativeiro é bloquear a entrada do espírito de sua espécie, pois seus progenitores não lhe poderão acompanhar nas experiências primárias que permitem a constituição de sua mente específica e individual.
           Os consumidores lidam com a vida animal como se fosse mais um item à venda, embalado de forma apreciável ao palato, no caso dos alimentos de origem animal, ou ao prazer estético, no caso dos animais comprados em pet shops. Os humanos ainda não se deram conta da barbaridade do seu gesto. Comprar um ser vivo, colocá-lo sob o domínio dos próprios caprichos, obrigá-lo a alimentar-se de modo artificial, forçá-lo a hábitos que não favorecem em nada sua higiene específica, tudo isso, embora mantenha intacto o corpo do animal adquirido, destrói seu espírito. Há humanos que só gostam dos animais se estes forem apenas um corpo sem espírito, sem expressão própria, aptos a assimilarem a expressão do tirano que diz cuidar deles.
           Quando o animal não corresponde em algum aspecto de sua expressão aos desejos do tirano que dele se assenhoreou, a reação deste é violenta. Os maus-tratos, o desprezo, o desrespeito para com animais que não se submetem à tirania da forma de expressão de quem deles se apossa manifesta-se nas formas mais brutais de violência, incluindo-se atear fogo ao corpo do animal vivo, para puni-lo por não satisfazer aos desejos ególatras de quem o comprou.
         Vida, a cadela queimada viva em Palhoça, SC, sofreu a pena de morte mais cruel que um humano pode impor a outro animal, seja de sua espécie, seja de qualquer outra: ser queimada viva. A morte não ocorreu de imediato. Sua agonia estendeu-se por dias, até que a vitalidade dos tecidos que mantiveram seus órgãos e organismo funcionando ao longo de sua vida esvaiu-se, em decorrência das chamas que consumiram sua carne viva, transformando-a num churrasco de chagas abertas.
         Vivemos numa época em que fazer churrasco e deliciar-se com ele é tido como tão natural quanto sorver um gole de água. Há uma diferença: o apreciado churrasco é feito com restos cortados do corpo de um animal previamente assassinado, via de regra por outra pessoa e de forma institucionalizada, para tal fim.
         De tanto banalizar a vida animal, forjando gestações e forçando a nascer seres que não são desejados em nossa companhia aqui no planeta, muitos humanos estão perdendo o senso do valor da vida. A cada feriadão são empilhados cadáveres nas nossas rodovias, enquanto em quase todos os lares cadáveres de animais de outras espécies são assados para se comemorar alguma coisa, por mais trivial ou corriqueira que seja. Animais são assassinados aos milhões para que humanos supernutridos se encham ainda mais de proteína inútil e prejudicial. O descaso pela vida dos animais de outras espécies, a liberdade de usá-los como se fossem objetos descartáveis, e a indiferença pelo sofrimento deles está tirando dos humanos o senso do respeito pela vida alheia.
          Quando alguém ateia fogo ao corpo de um animal morto, esse gesto nem sempre dá ao agente a real noção do que ele está fazendo, porque a parte mais cruel do evento foi realizada por outra pessoa na área de sangria dos matadouros industriais. Mas, quando alguém ateia fogo ao corpo de um animal vivo não tem desculpa para o seu ato, porque está ali presente em toda a sequência dele. No entanto, por mais absurdo que pareça, o gesto desse indivíduo apenas traduz o estado espiritual que viceja em nossa moral: descaso absoluto pela dor e pela morte de um ser indefeso. O gesto do cidadão palhocense reflete a cultura contemporânea de banalização da carne alheia, e essa cultura não vige apenas na cidade de Palhoça, mas ao redor do planeta. O fogo ateado, para o churrasco e para o prazer vil de contemplar um animal em agonia e desespero, nada mais representa do que a expressão de uma moralidade que se alimenta da matança dos corpos indefesos dos animais que foram forçados ao nascimento em confinamento, e vendidos para serem destruídos e cortados em pedaços buscados pelos consumidores nas gôndolas dos açougues onde quer que estejam instalados.
         Se não damos a menor importância à dor e à morte de animais de outras espécies é porque nenhuma importância damos à dor e à morte dos da nossa própria espécie. Cada um só chora e lastima a morte de alguém querido. Mas somos algo em torno de 7 bilhões de humanos e de quatro vezes mais animais criados para o abate. Não podemos ter por toda essa gente o mesmo afeto que nutrimos pelos que nos são íntimos. No entanto, para que vivamos e o façamos bem, esses 7 bilhões de humanos que não chamamos de “queridos” estão respeitando o dever de não nos violentar, não nos matar, não nos expropriar, e de deixar que busquemos nosso bem a nosso próprio modo, por isso ainda estamos vivos. Isso basta.
       Não precisamos achar que só merece viver quem julgamos ser “querido” por nós. Não somos “queridos” de muita gente, e, no entanto, queremos muito viver, de preferência bem longe de quem não gosta nada que vivamos. O mesmo se aplica aos animais. Eles não são nossos queridos. Apenas alguns deles são eleitos por nós para terem o privilégio de receberem nosso amor. O que acontece é que, caso nosso amor não seja bem compreendido pelo animal que escolhemos amar, passamos a maltratá-lo, a desqualificá-lo, a culpá-lo por nossas mazelas e mágoas. Daí para a crueldade que o dilacera vivo é somente um passo. Não há diferença alguma entre o que os humanos fazem a outros humanos, e o que alguns humanos fazem a alguns animais. Cada gesto retrata a moralidade do seu tempo. E os gestos mais brutos apenas nos alertam para a necessidade urgente de revermos nosso modo “humano” de amar aqueles que nascem na condição animal.
FONTE:

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Comparação entre a nova escravidão e o antigo sistema

http://www.reporterbrasil.com.br/conteudo.php?id=7
TRABALHO ESCRAVO HUMANO


"Lista suja" inclui 88 novos empregadores

http://www.reporterbrasil.com.br/exibe.php?id=1839
O agradecimento dos animais pelo Natal ou ‘Hoje eu sou uma estrela’


Os animais da pecuária encaram o fim de suas vidas – ‘eles nasceram para isso’ – nos bretes e corredores de concreto que antecedem a mesa farta preparada com tanto esmero pelas famílias de bom coração.

  



Por Marcio de Almeida Bueno
  
Esqueça o oba-oba das lojas, os empurrões no trânsito e a expectativa de folga, bebida e comilança. Somente o olhar dos animais não-humanos é verdadeiro, dentre o furacão que os engole com mais força, no final de cada ano. Os animais da pecuária encaram o fim de suas vidas – ‘eles nasceram para isso’ – enquanto contemplam o traseiro de um clone seu, nos bretes e corredores de concreto que antecedem a mesa farta preparada com tanto esmero pelas famílias de bom coração.

O olhar de quem não sabe chorar, já que a reza na hora do desespero é exclusividade na lista da racionalidade – essa qualidade que separa a humanidade das bestas-feras. O olhar de quem viu o filhote ser puxado para longe de si pelos funcionários da fazenda, esse lugar bucólico onde os animais são tratados como reis, já que optaram por isso em troca de suas liberdades.

O olhar do frango que está encaixotado, empilhado em um caminhão que passa na nossa frente quando estamos na estrada, rumo às férias. Perdemos um segundo, apenas, pensando nisso. Não há espaço para que ele nos dê um tchauzinho, talvez agradecendo pelo doce toque da morte que o aliaviará e abreviará sua existência marcada pela ausência de mãe, confinamento, horários alterados para ditar o ritmo da engorda e opressão no dia-a-dia.

‘Obrigado Papai Noel ou menino Jesus por me tirar de um aviário com outras milhares de aves. Obrigado pela ração e água que mantiveram este corpo vivo, pois ele vale pelo preço que alguém paga. Não tem o valor que minha mãe, animal como eu, instintivamente perceberia, e por isso me defenderia, em condições normais. Aqui sou um entre milhares, e não parece fazer muita diferença se eu morrer agora ou esperar o caminhão dos caixotes. Nasci de uma máquina de ovos, mas espero encontrar minha mãe, ciscando a meu lado, algum dia.

Obrigado Deus humano pela corrente que sempre existiu em torno do meu pescoço, que não me permite caminhar até o horizonte. Ou até o ponto onde há sombra, onde a água da chuva não está empoçada. Agradeço pelos dias que lembraram da minha existência, e sobras de comida chegaram até onde esta corrente permitiu alcançar. Obrigado, Papai Noel, por ter sido escolhido como animal de estimação por uma família de humanos.

Obrigado, espírito natalino, por eu ter puxado tanta carroça em meio à fumaça de óleo diesel, fraco, assustado e sedento, até que enfim eu tombei no asfalto. A última surra que tomei do carroceiro, para que eu me levantasse, permitiu que enfim meu espírito pudesse cavalgar livre naquelas campos verdes onde quadrúpedes iguais a mim, porém belos e com longas crinas, correm sentindo o vento da natureza. Acho que o esforço que fiz diariamente para tirar meu condutor da miséria, ou pelo menos diminuir sua pobreza, foi menos do que eu poderia, entao eu aceito meu castigo.

Obrigado, família do presépio, por eu ter sido o escolhido para, ainda bebê, estar na mesa de tantas residências, para ter meu pequeno corpo saboreado em uma bonita bandeja, assado e servido à meia-noite. Ainda não entendi por que nasci e morri tão rápido, se fiz algo errado a ponto de não poder crescer um pouco mais em um lugar que, onde vi, havia outros como eu, alguns bem gordos. Mal lembro da minha mãe, mas lembro que ela não podia se virar, cercada em um gradeado enquanto mamávamos. Talvez tenha sido azar, talvez tenha sido sorte.

Obrigado meu Deus, por eu poder ajudar tanta gente a usar um xampu que não irrite os olhos, uma maquiagem que não cause problemas, um produto qualquer a ser dado de presnete neste Natal, que nunca vou saber direito, que atendeu os humanos em suas expectativas mais simples. Estive em um laboratório, cercado de pessoas de jaleco branco, durante tempo suficiente para saber que sou parte importante do progresso, que a Ciência evoluiu graças à minha dor, meu aprisionamento e tudo aquilo que os produtos geraram nos meus olhos e no meu corpo. Fico grato por ter ajudado.

Obrigado Maria, mãe de todas as mães que, zelosas como eu, dão leite a seus filhos durante anos, mesmo após o fim de sua amamentação natural. Minha vida neste estábulo, com úberes gigantes e doloridos, plugados em uma máquina, é o sacrifício que faço para a saúde humana. Não percebi, ainda, em minha mentalidade abaixo da humana, porque o leite de meus filhos vai para os filhos de outra espécie, e até quando já são adultos. Meu filhote não está mais ao alcance de minha vista, foi retirado cedo de meu lado, mas sei que o papel dele, como vitelo, ocupa espaço de respeito junto aos humanos. É alvo de muitos comentários e elogios. Pelo menos é o que imagino, pois o sacrifício é doloroso o suficiente para, respeitosamente, ousar questionar o porquê de minha existência. Mas agradeço mesmo assim, Papai Noel.

Obrigado pelas palmas cada vez que apareço no picadeiro. O olhar das crianças me faz esquecer a minha vida de tédio e imobilidade, viajando de cidade a cidade. Quem sabe um dia eu e os demais animais cheguemos ao lugar de onde viemos, que deverá ter muitas árvores, rios e espaços para correr. Enquanto isso, eu repito as manobras noite após noite, mostro os mesmos truques que, pela minha teimosia, eu custei a decorar. Quem sabe neste Natal eu ganhe uma última viagem, de volta ao habitat que jamais conheci em vida.

Obrigado Natal, por eu poder aquecer tanta gente elegante em momentos de frio. Nasci peludo tal como minha mãe, e como ela pude participar da indústria humana, essa coisa que traz tanto progresso, dando de bom grado minha própria pele para que maridos mostrem afeto à esposa, presenteando-as com belos casacos. Muita gente famosa e rica usa a pele que pode ter sido minha. Isso me enche de orgulho e faz valer o tempo que morei em uma gaiola pouco maior que meu próprio corpo. Já estava cansado de andar em círculos, lembrando dos bosques que um dia corri de cima a baixo. Mas um dia veio a dor que, por pior que tenha sido, me libertou finalmente. Ainda relutei alguns minutos, já sem pele, mas vi que a liberdade me abraçava e escurecia minhas vistas. Acho que valeu a pena, pois sou fotografado e até apareço na televisão, durante o inverno – pelo menos acredito que aquelas partes sejam minhas, cobrindo o corpo de pessoas tão bonitas e famosas. Obrigado aos responsáveis.

Obrigado a todos que vieram me assistir nesta arena. Ainda estou zonzo e ofuscado pela luz após dias de escuridão, mas já entendi que, aqui, eu sou a atração. Há um semelhante a mim, porém sem chifres e mais magro, e nele está montado um humano, com roupas garbosas e armas tão afiadas como as que já furaram tantos iguais a mim. Eu espero que tudo isto termine logo, pois o cansaço está vencendo a euforia, há tanto sangue que já não sei se é meu ou de alguém antes de mim, e está difícil fazer levantar a platéia tantas vezes. Que a morte venha me tocar com a mesma doçura da última vez que fui tocado pela minha mãe. Ela deve estar orgulhosa de um filho que resistiu até o fim, cercado de espadas, aplaudido, sangrando ajoelhado, língua de fora mas fazendo questão de participar do show até o fim. Acho que os aplausos são para mim, já que os olhares convergem para onde estou. E eu não sei onde estou.

Obrigado menino Jesus por ter nascido e feito seus iguais perceberem a necessidade de haver uma festa em seu nome, para redenção e paz, onde eu seria assado em espeto e saboreado por tantas pessoas felizes, sorridentes e em clima de fraternidade. Jamais imaginei que, sem saber falar, sem ter tido escolhas, seria eu o ponto central dos churrascos de final de ano de tantas empresas, entidades, famílias e grupos a confraternizar. Aguardei este momento sempre em espaços com arame farpado, tal como a coroa que um dia finalmente lhe puseram na cabeça, e usei argola no nariz para que um filho seu, fiel e devoto, me conduzisse para o lugar certo. Apanhei da vida, mas quem não apanhou? Sempre soube que uma vida de aperto, confinamento, marcação a ferro quente, castração a frio e morte sobre o concreto teriam um sentido maior. Obrigado por dar um norte a minha vida. Hoje, eu sou uma estrela.

 FONTE:

Patada ecológica | BRASIL de FATO

Patada ecológica BRASIL de FATO

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

CAMPANHA CONTRA O ABANDONO DE ANIMAIS NAS FÉRIAS

Hidrelétricas no RS são uma calamidade social




S.O.S RIO PELOTAS E URUGUAI




AMAZÔNIA


FONTE:
BOLETIM DE TRANSPARÊNCIA FLORESTAL DA AMAZÔNIA : Dados 2010


http://www.amazonia.org.br/arquivos/374369.pdf
As promessas ambientais de Dilma Rousseff
Gustavo Faleiros*    
03 Jan 2011, 10:43 

A presidente no dia da posse. ( foto Agência Brasil )

As reações ao discurso de posse da 'presidenta' Dilma Rousseff são interessantes. Dos comentaristas, blogueiros na internet e das conversas de botequim, ouve-se mais análises da sua 'falta de carisma', de sua fria desenvoltura com as palavras escritas pelos assessores do que sobre o estofo de seu plano de governo.

Não que discursos sejam as peças mais indicadas para saber detalhes de como funcionarão as engrenagens da máquina pública e todos os interesses que lhes servem para azeitar ou emperrar. Mas ao menos são um retrato das prioridades. Não surpreende, portanto, que Dilma tenhadedicado grande parte de seus 12 minutos sobre o parlatório em falar da geração de emprego e erradicação da miséria (fora os intermináveis agradecimentos a Lula).

Entretanto ,houve ali, em exatamente 72 palavras (contadas no discurso oficial distribuído à imprensa), uma promessa de responsabilidade ambiental. Não se lançou mão do coringa 'desenvolvimento sustentável', que ainda hoje não contenta parte da academia, mas falou-se que, por aqui, é possível implementar um “projeto inédito de um país desenvolvido com forte componente ambiental.”

Essa frase isolada não é muito diferente do que Lula disse há 4 anos quando tomou posse de seu segundo mandato – na ocasião, garantiu que seu governo tinha respeito pelo 'meio ambiente'. Mas olhando todo o discurso é possível afirmar que, pela primeira vez, um presidente brasileiro foi um pouco ( e só um pouco) além das generalidades na questão ambiental. Por isso, o assunto, na boca de Dilma, ganhou ares de promessa.

Dilma Rousseff foi a coordenadora do programa que literalmente acelerou a destruição ambiental no país, o PAC.

  • Como toda promessa veio embalada com certa dramaticidade. Disse a presidente:

    “Queridos brasileiros e queridas brasileiras, considero uma missão sagrada do Brasil a de mostrar ao mundo que é possível um país crescer aceleradamente, sem destruir o meio ambiente. ”

    É um compromisso e tanto, principalmente se levado em conta o fato que foi Dilma a coordenadora do programa que literalmente acelerou a destruição ambiental no país. O PAC, que aliás figurou entre as prioridades enfatizadas no discurso de posse, negligenciou questões ambientais desde sua concepção. Mesmo promovendo a expansão de campos de petróleo, novas refinarias, frigoríficos, termoelétricas nunca calculou qual seria a contribuição ao balanço das emissões de gases de efeito estufa no país.

    O único componente dedicado ao meio ambiente do programa era melhorar o setor de licenciamento no país, equipando o Ibama e enviando um projeto de lei para a regulamentação do artigo 23 da Constituição (que define responsabilidade federativas no licenciamento). O Ibama não só não saiu do lugar como nos 3 anos de existência do PAC entrou duas vezes em greve. Dois dos principais projetos de infraestrutura, as usinas hidrelétricas do Rio Madeira e Belo Monte receberam pareceres negativos de técnicos qualificados e, mesmo assim, a presidência do Ibama decidiu desconsiderar a opinião de funcionários da casa e emitir as licenças.

    Já o projeto de lei que regulamenta o Artigo 23 começou a tramitar na Câmara dos Deputados. Mas o próprio governo que defendeu que este seria o caminho para melhorar a gestão ambiental no país não se movimentou para acelerar a tramitação do projeto. A omissão permitiu emendas parlamentares que desviam o foco do projeto reduzindo o poder de fiscalização do Ibama. Se aprovado como está no momento, o projeto de lei 01/2010 vai jogar a política ambiental brasileira de volta nos anos 80.

    Dois pontos aparentemente conflitantes no discurso de Dilma – as reservas do pré-sal e energia limpas - serão a chave para monitorar a atuação de seu governo com relação aos temas ambientais. Em um momento disse que não trataria os recursos obtidos com a exploração do pré-sal de forma irresponsável e que seriam usados para a “erradicação da pobreza e valorização do meio ambiente”. Em outro momento, disse que o Brasil continuaria a investir em fontes limpas de geração de energia, nominalmente energia solar e biocombustíveis.

    A divisão dos recursos do pré-sal como já se sabe causou celeuma no congresso (e até lágrimas do governador do RJ). Mas agora que o bolo está dividido é preciso aprofundar a discussão com a sociedade sobre projetos de pesquisa e conservação que devem ser priorizados. Entre eles podem estar exatamente os investimentos em energia para o futuro, como aquelas mencionadas por Dilma em seu discurso.

    Além disso, o pré-sal é uma oportunidade para elevar aportes diretos na conservação dos nossos ecossistemas mais importantes, estejam eles na Amazônia, no Cerrado ou na zona costeira e marinha. Por isso, é preciso implementar instrumentos de compensação a proprietários rurais, pagamentos por serviços ambientais, incentivos econômicos ao turismo em unidades de conservação e outras ferramentas inovadoras que criem uma economia baseada no capital verde do país.

    Se através dos recursos do pré-sal, o Brasil conseguir fazer a transição da energia suja para energia limpa terá cumprido talvez metade da 'missão sagrada' mencionada pela presidente. A parte restante é mais desafiadora: fazer a transição da nossa mentalidade nacional de que a riqueza do Brasil não está na exploração de seus recursos naturais, mas sim na sua conservação.

    *Gustavo Faleiros é editor de ((o))eco
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Estado retoma setor energético, mas modelo continua o mesmo | BRASIL de FATO

Estado retoma setor energético, mas modelo continua o mesmo BRASIL de FATO

sábado, 1 de janeiro de 2011

 

Fome de quê mesmo?

Vanilda Moraes Pintos
22 de dezembro de 2010
Quem estuda geologia sabe: o planeta Terra não é mais o mesmo.
Mas isso não é de hoje. A  Terra vem  sofrendo  periodicamente cataclismas que provocam profundas transformações tanto na superfície planetária bem como na profundidade abissal dos oceanos.
Desde que começou seu processo evolutivo, a Terra tem experimentado uma sucessão de combinações na matéria que culminou na formação de uma estrutura planetária biologicamente tão rica e complexa, de proporções tão incalculáveis ao pensamento humano que dificilmente, a despeito do emprego de todos os recursos tecnológicos,  poderíamos apreender o funcionamento desta gigantesca cadeia denominada vida.
Os ecossistemas, tão profunda e sabiamente engendrados, perpetuam-se através dos milênios, garantindo a subsistência de toda espécie de vida na terra como na água.
E neste pano de fundo, o ser humano apareceu, produto de um sem fim de combinações genéticas,  oriundo de um elo perdido que não nos permite estabelecer no relógio do tempo o mecanismo exato que o trouxe  até aqui.
Mas aqui chegamos, aqui estamos.
Através dos milênios, o homem vem desafiando a adversidade climática de um planeta a princípio inóspito, criando mecanismos que lhe ofereça  segurança e perpetuação de sua espécie.
E neste peregrinar pelo planeta, buscando suprir suas necessidades primárias, passa o homem ao estágio seguinte.  Não mais nômade, fixa-se.  Trabalha, doma e domina a terra, estabelecendo sua soberania sobre ela.
A partir daí, todo um legado de destruição começa a constituir-se e a contrapor-se ao equilíbrio planetário. Numa sôfrega busca por conforto material, o homem tem cavado as profundezas dos solos e dos oceanos. Nada o detém.
Escava a terra, retirando dela, aquilo que ele consegue identificar como elemento gerador de energia, o petróleo .Cava túneis, detona minas, explora jazidas. Não satisfeito vai mais além. Com sondas submarinas, invade o oceano silencioso que não lhe opõe fronteiras.
Nada nem ninguém o detém.
Na ânsia deste processo de captação de recurso alimentar e energético, não olha para trás, não desconfia sequer que deixa um rastro de erosão, de aniquilamento, de destruição.
Madeiras são produzidas a custa de árvores  oriundas de áreas  que apresentam um delicado sistema ecológico, que levou milhares de anos para se formar.
Mas o homem tem pressa. Deseja construir  casas, barcos, materiais, a demanda é enorme,não há tempo para pensar. Pensar em que mesmo?
A população humana cresce vertiginosamente e há que se oferecer moradia e alimento para tantos humanos.
Falamos em alimento? Mas de qual alimento mesmo estamos falando?
Porque falávamos de matas, oceanos,  jazidas. De que alimento estamos mesmo falando?
Alimento oriundo da agricultura? De pomares, hortas? Alimento retirado da terra? Mas de qual terra?
Ah, daquela terra devastada,  seca, tórrida, agredida e esgotada que nada mais produz.
Mas, olhando à volta, e não é necessário olhar tanto assim, veremos animais ao nosso redor: mesmo que estejam à distância , o homem pode  ir buscá-los.
Domá-los à força bruta, na linguagem do chicote e do arreio, domar o animal pela dor, pela subjugação,  para fazê-lo escravo  submisso,  vencido e violentado,  de cabeça baixa pelo peso da canga ou do relho, mas domado. Aos outros, aos não domados, restou a faca.
Nenhum animal que ousasse se interpor no caminho do homem faminto a caminho da “ civilização” poderia escapar.
Afinal o homem tinha fome, mas fome de que mesmo? De que fome estamos falando?  Da fome das entranhas ou da fome  de poder? Certamente que esta resposta os animais jamais saberão.
Souberam  somente que,  do caminho do pasto para a cozinha só havia um destino: a degola, a panela fervente , a dor. Outros milhares nem chegaram nas cozinhas, morreram no campo mesmo, o homem tinha pressa e fome de morte.
Mas a população humana continuava crescendo…e crescendo….e  crescendo…
Então, onde buscar mais alimento? O solo não produzia mais ou não rendia de forma tão previsível, afinal , as intempéries  ainda não haviam sido “ domadas”. Era preciso produzir mais alimento.
Mas de qual alimento mesmo estamos falando? Certamente daquele alimento corpo, alimento morte, alimento dor. Então foi preciso aprisionar os animais em espaços cada vez menores para que  coubessem mais  corpos  na mesma área. Animais em gaiolas, cubículos. Animais em bretes, em baias. Animais confinados, sem ver a luz do dia.
E os animais-comida sofriam, dias intermináveis de uma vida miserável, presos  entre arames e barras de metal, atordoados com o barulho infernal da linguagem de seus semelhantes que neuróticos pelo aprisionamento perpétuo, clamavam  por ajuda, num coro inútil e desesperador.
Mas o homem precisava comer.  Precisava mesmo? Comer comida de corpos?
Ele tinha pressa, não podia parar e olhar nos olhos do animal, a dor, o horror, a infelicidade. Mas o homem estava feliz demais para pensar na dor do animal! Era só um animal!
Por que um animal se importaria em  ser morto? Afinal era só um animal ? Porque ele haveria de se importar em ser privado de espaço e liberdade? Era só um animal.
Mas a história não acaba aí.
O homem continuou. A civilização precisava crescer. E buscando atender a todos os desejos, manias, preferências, mimos e tolices, o homem precisava  buscar mais e mais elementos para atender suas fantasias.
Mas um dia, o solo calou.O ar secou. O pulmão doeu. Os olhos arderam. O que aconteceu?
Foi buscar solução no espaço. Mandou sondas, foguetes  mas eles não trouxeram respostas.
Parece que havia sido violado  um certo limite. Mas nada havia sido dito ao homem sobre limites. Onde estavam estas informações? Em qual manual? Alguns ainda ousaram avisar:  na consciência. Mas a maioria achou tolice. Zombaram dos que acreditavam nessa tolice chamada consciência.
O homem tinha tanta pressa, precisa povoar o planeta e dominá-lo. Não era o seu destino?
Não tinha feito tudo certinho? Multiplicação, dominação, exploração? Não cavou o solo, não secou a terra, não dominou céus e mares? Onde estava o erro? Não subjugou o suficiente? O que ficou faltando? Onde estava o erro? Ele queria respirar, ele queria … O ar dizia não. O oceano, indiferente à sua agonia, trazia e levava as ondas, num incansável e rítmico vai e vem…
A terra não o escutava, seus ouvidos tinham sido fechados. O homem os tinha fechado.
E agora? Pra onde ir?  Para onde fugir? E no silêncio da noite,  ao longe, as estrelas piscando, no seu brilho celestial, sorriam irônicas pensando: Ah,  alguns  avisaram… A consciência.
Vanilda Moraes Pintos
Médica Veterinária, Coordenadora do Grupo Amigo Bicho & Companhia da Sociedade Vegetariana Brasileira-Rio Grande/RS
FONTE:

Pensata Animal - Fanny Bernard: uma voz antivivisseccionista no século XIX

Pensata Animal - Fanny Bernard: uma voz antivivisseccionista no século XIX
Uma amizade inacreditável
Gata adotou bem-te-vi que caiu de ninho e o protege como a um filhote

(SÍLVIA LISBOA)




Quando Pitico caiu do ninho há três anos, tombando no terreno da dona de casa Nair de Souza, a moradora tratou de protegê-lo de Chiquita, temerosa de que o felino fosse abocanhá-lo. A avezinha estava duplamente indefesa. Além de passarinho, alvo dileto dos felinos, o bem-te-vi tinha um problema de nascença: suas asas não se desenvolveram como a de seus irmãos, que na mesma época deixaram o ninho voando. Conseguia apenas dar pulinhos, recurso ineficiente em caso de um ataque de Chiquita.
Ainda filhote, Pitico vivia dentro de uma caixinha, sob o olhar atento de dona Nair. Os receios não se justificaram. Para a surpresa da dona de casa de 51 anos, desde o primeiro dia em que se conheceram, Pitico e Chiquita não se estranharam. Pelo contrário, a cada dia que passava, sempre sob vigilância, os dois animais criavam afinidade. Passaram a comer no mesmo prato - Pitico virou até carnívoro por causa da amiga.
- Ele come tudo o que ela come - diz Nair.
Dormem no sofá da sala, trocam carícias e passam o dia brincando no pátio. Pitico até ensaia vôos para impressionar Chiquita. Apesar da afeição pelo bem-te-vi, a gata não perdeu o apetite por passarinhos. Esperta, usa o companheiro como isca para atacar pardais que se aventuram no pátio.
- Ela deixa o pardal se aproximar do Pitico, e quando ele está próximo, pula por cima dele e abocanha o pardal - conta a dona.
A dupla só se separa quando Pitico vai tomar seus banhos - o bem-te-vi toma até três banhos por dia na sua "piscina", uma bacia improvisada pelos donos. Nestes momentos, Chiquita admira, de longe, o estranho hábito do melhor amigo com a indiferença peculiar dos felinos.

FONTE:

http://www.aila.org.br/psicologia2.htm
Conheça a história da Lei Maria da Penha

Maria da Penha Maia Fernandes é uma farmacêutica cearense que, em 1983, recebeu um tiro de seu marido, enquanto dormia. Ele tentou acobertar o crime, afirmando que o disparo havia sido cometido por um ladrão. Após um longo período no hospital, a farmacêutica retornou para casa, onde mais sofrimento a aguardava.Seu marido a manteve presa dentro de casa, iniciando-se uma série de agressões. Por fim, uma nova tentativa de assassinato: desta vez, por eletrocussão, o que a levou a buscar ajuda da família. Com uma autorização judicial, ela conseguiu deixar a casa em companhia das três filhas. Maria da Penha ficou paraplégica.
No ano seguinte, em 1984, Maria da Penha iniciou uma longa jornada em busca de justiça e segurança. Sete anos depois, seu marido foi a júri, sendo condenado a 15 anos de prisão. A defesa apelou da sentença e, no ano seguinte, a condenação foi anulada.
Um novo julgamento foi realizado em 1996 e o marido de Maria da Penha foi condenado a10 anos. Porém, ele ficou preso por apenas 2 anos, em regime fechado. Em razão deste fato, o Centro pela Justiça pelo Direito Internacional (CEJIL) e o Comitê Latino-Americano de Defesa dos Direitos da Mulher (CLADEM), formalizaram, junto com a vítima, uma denúncia. A denúncia foi feita à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA).
Paralelamente, iniciou-se um longo processo de discussão através de proposta elaborada por um Consórcio de ONGs e, assim, o caso teve repercussão internacional. Transformada a proposta em Projeto de Lei, foram realizadas, durante o ano de 2005 , inúmeras audiências públicas em Assembléias Legislativas das cinco Regiões do País.

A Lei

Assim, a Lei nº 11.340 foi sancionada pelo Presidente da República, em 7 de agosto de 2006. Em vigor, desde 22 de setembro de 2006, aLei Maria da Penha” dá cumprimento, finalmente, as disposições contidas no §8º, do artigo 226, da Constituição Federal de 1988. A Lei Maria da Penha estabelece que todo o caso de violência doméstica e intrafamiliar é crime e deve ser apurado através de inquérito policial e ser remetido ao Ministério Público. Esses crimes são julgados nos Juizados Especializados de Violência Doméstica contra a Mulher, criados a partir dessa legislação, ou, nas cidades em que ainda não existem, nas Varas Criminais.
Violência contra a mulher é qualquer conduta ação ou omissão de discriminação, agressão ou coerção, ocasionada pelo simples fato de a vítima ser mulher e que cause dano, morte, constrangimento, limitação, sofrimento físico, sexual, moral, psicológico, social, político ou econômico ou perda patrimonial.
Violência de gênero é a violência sofrida pelo fato de se ser mulher, sem distinção de raça, classe social, religião, idade ou qualquer outra condição.
Violência doméstica é quando ocorre em casa, no ambiente doméstico, ou em uma relação de familiaridade, afetividade ou coabitação.
Violência familiar acontece nas relações entre os membros da comunidade formada por vínculos.
Estes vínculos podem ser de parentesco natural (pai, mãe, filha, etc.) ou civil (marido, sogra, padrasto ou outros), por afinidade (o primo ou tio do marido, etc.) ou afetividade (amigo ou amiga que more na mesma casa).

Como denunciar?

  • As mulheres que sofrem violência podem procurar qualquer delegacia, mas é preferível que elas recorram às Delegacias da Mulher (DDM).
  • Há também os serviços que funcionam em hospitais e universidades e que oferecem atendimento médico, assistência psicossocial e orientação jurídica.

A mulher que sofreu violência pode ainda procurar ajuda:

  • Nas Defensorias Públicas e Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher.
  • Nos Conselhos Estaduais dos Direitos das Mulheres.
  • E nos Centros de Referência de Atendimento às Mulheres.
FONTE: