sexta-feira, 1 de agosto de 2014


Proteção Animal: dos fofismos aos radicalismos



Imagem: Dana Ellyn

por Swami Fonseca

Bióloga, professora e acadêmica de Medicina Veterinária

             “Prefiro bicho do que gente”. Essa é uma expressão da vala comum quando se perde a fé no ser humano e perigosa quando dita pelos adeptos/simpatizantes da proteção animal que por vezes assume a identidade de uma seita. Por que não existe “proteção animal” sem gente. Se quisermos uma humanidade melhor, não podemos deixar de incluir o grande sujeito de transformação que é o ser humano. Ele pode viver sob o mesmo teto, passar por você todos os dias na rua ou sentar ao seu lado numa sala de espera. Obviamente existem pessoas más e boas, mas quando se é bom ou mau se é com todo mundo. Mas o ideal é ser bom com todos na tentativa contundente de eliminar o germe especista ( especismo: significa fazer uso de outras espécies consideradas inferiores em proveito da sua considerada superior ). Porque na escola desde bem pequenos obedecendo a um processo de formatação cultural, nos é ensinado que todas as espécies devem estar subordinadas a nossa. Nessa lógica doentia é semeado que todos os seres pertencem ao nosso domínio, por isso acredita-se que comer e vestir animais é algo trivial. Eis que finalmente é celebrado o litígio entre o humano e o animal e fertilizada a crise da nossa civilização do consumo contra a natureza.
      Mas nesse enredo cruel vem à tona o famigerado “fofismo”, expressão a qual uso ao exagero de afeto por alguns animais, principalmente cães e gatos, aqueles criados bem pertinho de nós.  E por que faço essa provocação?  Justamente porque outros animais são deixados de lado, como os ditos de produção: o porco, a cabra, o carneiro etc. Animais que seguem a sina do esquecimento e a sua importância se resumem ao prato como alimento. Para estes não cabe um olhar, um carinho ou piedade porque seu destino é o abate. Justamente porque também em nossa sociedade os animais são escolhidos para serem nossa companhia, nosso alimento ou diversão. Para aqueles animais a “proteção animal de cão e gato” não quer assumir a sua proteção. Pois como ficaria o churrasco de final de semana, o bife de todos os dias, a pizza de bolonhesa e também as compras de revistas cujos cosméticos são testados em animais. Bem como os xampus e cremes de beleza de marcas famosas que também são testados nas cobaias esquecidas e silenciosas. Aos que se dizem protetores que me perdoem! Mas proteção animal vai muito além de hábitos que se quer são questionados no nosso cotidiano. Pode ser questão de radicalismo, mas quem assume e veste a camiseta pelos animais também vai ter que mudar e se comprometer com as mudanças em curso. Amar uns e consumir outros animais não é digno de quem se diz protetor dos animais. Por isso devemos avançar nesse debate que é ético, político e educador para radicalizar e revolucionar a proteção dos animais, não somente a eles, mas ao planeta que está entrando em colapso com tanto desmatamento e poluições pelo modo de produzir, consumir e viver  loucamente. Radicalize seu viver pela vida no planeta.



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