NOS “RODEIOS” DAS TRADIÇÕES
Por Swami Fonseca
Foto: Rodeio Internacional de Pelotas/RS-Ano
2011
A
história da humanidade foi marcada sempre pelo domínio e posse dos milhares de
territórios e suas exuberantes naturezas, incluindo nesta; também os humanos e que,
em não se enquadrando ao arcabouço identitário das raças brancas, ditas
superiores, relegaram as demais, à subraças ou não-raças. Isto, quando eram
considerados humanos, como o ocorrido no período da escravidão, aqui no Brasil,
onde os negros eram considerados destituídos de alma, num período que perdurou
por quase três séculos. Mas especialmente no Rio Grande do Sul; todos aqueles
elementos categóricos dos conquistadores/colonizadores tais como: coragem,
domínio, orgulho, posse do eu sobre “qualquer outro” ( terra, mulher, família,
escravos e animais ) além de um altíssimo ego especista; ainda dominam e assumem contextos prodigiosos no cotidiano.
A cultura sulina é reconhecida em todo país por ser machista, onde o gaúcho é o
centro da tradição, digo o homem, porque a mulher ainda está num processo de
emancipação cultural e por que não dizer; psicológica da figura masculina. Aliás;
não é por acaso, que aqui no RS crescem os casos de violência doméstica em
todos os estratos sociais em relação à mulher. Pode-se, dizer que, o legado de
toda a tradição, se fez através; da dominação pela violência física e simbólica,
sob todas as formas de discriminação. Por isso quando o assunto é tradição
essas questões provocativas devem vir à tona, para discutirmos a que tradições
estamos nos referindo, por quem foi criada e o que lhe restará como resignificações
no futuro. Pois o século 21 está passando por profundas mudanças de pensamento,
novos paradigmas povoarão as práticas, como o que já está ocorrendo em relação
aos direitos dos animais numa perspectiva do abolicionismo animal, onde o
cavalo do gaúcho explorado por sua força de trabalho, agora é um sujeito
detentor de direitos, logo maus-tratos e abusos são considerados crimes
passiveis de punição. Isto se justifica porque os animais, já são considerados
pela ciência ( mesmo que paradoxalmente, pois foi a primeira a coisificar os
animais ) como “seres sencientes”, ou seja; têm consciência de si, iguais a
nós, com inteligência e, que muitas vezes, surpreendem na capacidade de
resolverem os seus problemas de sobrevivência. Por isso é necessário
desconstruir que o cavalo nasceu para o gaúcho e muito menos para todas as
atividades de exploração animal, a exemplo dos rodeios, como sendo uma
atividade comercial marcada pela violência, pois o animal está ali, não por
escolha, mas por obrigação, pela força sobre alto nível de estresse, dor e medo.
Aliás, os rodeios nem mesmo são brasileiros, gaúchos ou muito menos sertanejos
( como defendem os paulistas que rivalizam com os gaúchos o status de
pertencimento dos rodeios ) e, sim; adotados, porque não dizer; “roubados”; da
cultura norte-americana do final do século retrasado. Por isso, vale-nos
repensar que tradições estão sendo defendidas e a que ideologias pertencem,
pois em todas ocorrem à exploração da vida tornado-a uma mercadoria, além de
criar uma cultura da violência, onde a mesma torna-se banalizada e instituída e
que desconsidera valores de solidariedade e compaixão para com o próximo, não
detentor das mesmas condições de igualdade para a defesa, fato comparável aos
feitos contra os povos indígenas ( e que ainda se faz infelizmente ) e
escravos. Quem foram os criadores das tradições? Eis, que ainda continuamos nos
rodeios das tradições e vice-versa, exaltando mitos e símbolos, sem ao menos
refletirmos o seu reflexo para a sociedade de uma maneira construtiva pela
cultura da paz. Já que os rodeios são “shows” realizados através da violência,
do desrespeito à vontade do animal, que jamais gostaria de estar passando pelas
provas criadas por homens. Sendo este cegos na vaidade e incapazes de se
colocarem no lugar dos animais, ainda
mais que; eles são reconhecidamente portadores de alma, como atesta a médica
veterinária Dra. Irvênia Prada, professora da Universidade de São Paulo, que a
décadas é uma estudiosa sobre o assunto. Deixo meu apelo à Nossa Senhora
Aparecida – escolhida como padroeira dos peões sem a sua “permissão”, mas que
certamente deve torcer pelos animais - e São Francisco de Assis que comunguem
pela libertação dos animais de rodeios e todo tipo de sacrilégios à vida.
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