domingo, 22 de abril de 2012





NOS “RODEIOS” DAS TRADIÇÕES

Por Swami Fonseca

Foto: Rodeio Internacional de Pelotas/RS-Ano 2011

A história da humanidade foi marcada sempre pelo domínio e posse dos milhares de territórios e suas exuberantes naturezas, incluindo nesta; também os humanos e que, em não se enquadrando ao arcabouço identitário das raças brancas, ditas superiores, relegaram as demais, à subraças ou não-raças. Isto, quando eram considerados humanos, como o ocorrido no período da escravidão, aqui no Brasil, onde os negros eram considerados destituídos de alma, num período que perdurou por quase três séculos. Mas especialmente no Rio Grande do Sul; todos aqueles elementos categóricos dos conquistadores/colonizadores tais como: coragem, domínio, orgulho, posse do eu sobre “qualquer outro” ( terra, mulher, família, escravos e animais ) além de um altíssimo ego especista; ainda dominam  e assumem contextos prodigiosos no cotidiano. A cultura sulina é reconhecida em todo país por ser machista, onde o gaúcho é o centro da tradição, digo o homem, porque a mulher ainda está num processo de emancipação cultural e por que não dizer; psicológica da figura masculina. Aliás; não é por acaso, que aqui no RS crescem os casos de violência doméstica em todos os estratos sociais em relação à mulher. Pode-se, dizer que, o legado de toda a tradição, se fez através; da dominação pela violência física e simbólica, sob todas as formas de discriminação. Por isso quando o assunto é tradição essas questões provocativas devem vir à tona, para discutirmos a que tradições estamos nos referindo, por quem foi criada e o que lhe restará como resignificações no futuro. Pois o século 21 está passando por profundas mudanças de pensamento, novos paradigmas povoarão as práticas, como o que já está ocorrendo em relação aos direitos dos animais numa perspectiva do abolicionismo animal, onde o cavalo do gaúcho explorado por sua força de trabalho, agora é um sujeito detentor de direitos, logo maus-tratos e abusos são considerados crimes passiveis de punição. Isto se justifica porque os animais, já são considerados pela ciência ( mesmo que paradoxalmente, pois foi a primeira a coisificar os animais ) como “seres sencientes”, ou seja; têm consciência de si, iguais a nós, com inteligência e, que muitas vezes, surpreendem na capacidade de resolverem os seus problemas de sobrevivência. Por isso é necessário desconstruir que o cavalo nasceu para o gaúcho e muito menos para todas as atividades de exploração animal, a exemplo dos rodeios, como sendo uma atividade comercial marcada pela violência, pois o animal está ali, não por escolha, mas por obrigação, pela força sobre alto nível de estresse, dor e medo. Aliás, os rodeios nem mesmo são brasileiros, gaúchos ou muito menos sertanejos ( como defendem os paulistas que rivalizam com os gaúchos o status de pertencimento dos rodeios ) e, sim; adotados, porque não dizer; “roubados”; da cultura norte-americana do final do século retrasado. Por isso, vale-nos repensar que tradições estão sendo defendidas e a que ideologias pertencem, pois em todas ocorrem à exploração da vida tornado-a uma mercadoria, além de criar uma cultura da violência, onde a mesma torna-se banalizada e instituída e que desconsidera valores de solidariedade e compaixão para com o próximo, não detentor das mesmas condições de igualdade para a defesa, fato comparável aos feitos contra os povos indígenas ( e que ainda se faz infelizmente ) e escravos. Quem foram os criadores das tradições? Eis, que ainda continuamos nos rodeios das tradições e vice-versa, exaltando mitos e símbolos, sem ao menos refletirmos o seu reflexo para a sociedade de uma maneira construtiva pela cultura da paz. Já que os rodeios são “shows” realizados através da violência, do desrespeito à vontade do animal, que jamais gostaria de estar passando pelas provas criadas por homens. Sendo este cegos na vaidade e incapazes de se colocarem  no lugar dos animais, ainda mais que; eles são reconhecidamente portadores de alma, como atesta a médica veterinária Dra. Irvênia Prada, professora da Universidade de São Paulo, que a décadas é uma estudiosa sobre o assunto. Deixo meu apelo à Nossa Senhora Aparecida – escolhida como padroeira dos peões sem a sua “permissão”, mas que certamente deve torcer pelos animais - e São Francisco de Assis que comunguem pela libertação dos animais de rodeios e todo tipo de sacrilégios à vida. 

       

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