domingo, 24 de julho de 2011

Tráfico sexual na Amazônia:
“Um pacto silencioso de reprovação moral e aceitação prática”. Entrevista especial com Marcel Hazeu

        O abuso sexual e o tráfico de mulheres na Amazônia estão vinculados a "situações análogas à do trabalho escravo”, constata pesquisador da ONG Só Direitos.
Confira a entrevista.
         A exploração sexual de adultos e crianças na Amazônia é um fenômeno antigo que tem raízes profundas e está relacionada ao mercado de trabalho e à formação da região amazônica. Durante o processo de colonização e desenvolvimento local, o tráfico e a exploração mudaram de configuração, mas continuam “expressando a forma como as relações de trabalho e de convivência se organizam no contexto da ocupação colonial e capitalista da região”, aponta Hazeu à IHU On-Line, em entrevista concedida por e-mail.
       Pesquisador da ONG Sociedade de Defesa dos Direitos Sexuais da Amazônia (Só Direitos), de Belém do Pará, Marcel Hazeu estudou o tráfico de mulheres do Brasil e da República Dominicana para o Suriname e enfatiza que o tráfico e a exploração sexual na região se intensificam porque há “poucas oportunidades para a população local”. O mercado do sexo, “vinculado a todas as atividades econômicas (construção, transporte, mineração, etc.)”, facilita e possibilita a entrada de crianças e adolescentes em um ciclo de prostituição que se repete a cada nova geração.
        Marcel Hazeu é autor da dissertação Migração internacional de mulheres na periferia de Belém e atualmente cursa doutorado em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade Federal do Pará. Ele coordenou pesquisas sobre exploração sexual de crianças e adolescente e sobre tráfico de pessoas na Amazônia, entre as quais citamos Tráfico de Mulheres: um novo / velho drama amazônico.
Confira a entrevista.
         IHU On-Line – Que motivos favorecem a exploração sexual na região amazônica?
         Marcel Hazeu – A exploração sexual faz parte de um dos problemas que cercam o tráfico de mulheres, o qual precisa ser entendido a partir da questão constituinte, que é a exploração do trabalho em combinação com o impedimento do direito de ir e vir, ou seja, situações análogas à do trabalho escravo. Estas situações podem ser identificadas no contexto do mercado de trabalho formal e informal, tanto na esfera pública quanto privada. O deslocamento de um lugar para outro é um segundo elemento necessário para falar em tráfico de mulheres, uma vez que a saída de uma realidade, onde elas contavam com uma rede social mínima de proteção e o domínio mínimo do espaço para uma nova realidade, torna-as estranhas e sem acesso às relações sociais locais e, portanto, mais vulneráveis e dependentes das pessoas que organizaram sua viagem e seu lugar de estada.
        Discutir tráfico de mulheres na Amazônia começa, portanto, com uma análise do mercado de trabalho, neste caso específico de mulheres de classes populares. Como estas mulheres na Amazônia se inserem no mercado trabalho local e internacional? Quais são as possibilidades e nichos de trabalho para mulheres na Amazônia? O que é considerado trabalho?
      O mercado do trabalho na Amazônia se estruturou historicamente em decorrência da exploração de suas riquezas e da implementação de infraestruturas para a segurança nacional no sentido de escoar as riquezas ou providenciar recursos energéticos para a produção industrial vinculada à exploração de recursos naturais. Através de estímulo à migração espontânea, de organização da migração oficial e do aviamento de homens e mulheres de outras partes do Brasil, onde suas condições de vida impediram sua permanência com qualidade ou perspectivas, pessoas chegaram à Amazônia. O mercado de trabalho abriu espaço para mão de obra masculina na construção de obras e na garimpagem. Para as mulheres, o trabalho significava cuidar desta mão de obra masculina e, portanto, elas atuavam como cozinheiras, prostitutas, lavadeiras, etc., além de exercerem atividades de compra e venda. Muitos homens e mulheres chegaram e chegam à Amazônia através de esquemas de tráfico de pessoas, aqui chamado de aviamento, ou seja, escravidão por dívida, isolamento, ameaças, violência e vigilância.
        Esta lógica se perpetuou nas últimas décadas da ocupação/invasão da Amazônia apesar da diversificação do mercado, do crescimento das cidades e dos meios de transporte e comunicação. Uma novidade das últimas décadas é a ampliação destes esquemas de migração e tráfico de pessoas para países vizinhos (muitas vezes vinculados à atividade garimpeira) e para países europeus.
        Ideologicamente, ocorreu outro movimento que prejudicou o entendimento e o enfrentamento desta situação: o descredenciamento de vários tipos de trabalho de mulheres como trabalhos propriamente ditos. Por exemplo, o trabalho doméstico e o trabalho na prostituição. Em vez de serem consideradas como trabalhadoras exploradas, traficadas e escravizadas, sua situação foi enquadrada como não trabalho, vagamente identificada como algo que deve ser considerado "atividades naturalmente informalizadas de reprodução" ou como "atividades moralmente condenáveis".
Exploração sexual
        O termo “exploração sexual” foi adotado no Brasil como expressão para a realidade de crianças e adolescentes que se encontraram no mercado de sexo, uma forma de trabalho infantil a ser banida. Para mulheres e homens adultos, o termo não tem uma definição clara e é usado no combate à prostituição em geral (abolicionismo). Tentativas de definir exploração sexual como prostituição forçada ou escravidão sexual não dominam o debate.
       Finalmente, respondendo à pergunta: A história da colonização da Amazônia se confunde com as histórias de tráfico de mulheres. Ou seja, não se trata de um fenômeno novo, mas de uma realidade que muda de configuração ao longo do tempo, expressando a forma como as relações de trabalho e de convivência se organizam no contexto da ocupação colonial e capitalista da região.
        Podemos identificar o seguinte:
       • A escravidão de mulheres indígenas e, posteriormente, de mulheres africanas nas plantações na Amazônia e nos centros urbanos na época colonial até a abolição da escravidão.
       • O aviamento de homens e mulheres vinculado à exploração da borracha.
      • O aviamento de homens e mulheres vinculado à construção de grandes obras na Amazônia.
      • O aviamento de homens e mulheres vinculado à atividade garimpeira no interior da Amazônia.
      • O tráfico de mulheres para países da pan-amazônia e para Europa.
      IHU On-Line – Que aspectos favorecem a exploração sexual infantil na Amazônia?
       Marcel Hazeu – A exploração sexual de crianças e adolescentes na Amazônia tem sido favorecida por diversos aspectos:
        1. Pelas relações de desigualdade de poder local, onde fazendeiros, comerciantes, políticos e outras autoridades locais mantêm um sistema de clientelismo que gera uma dependência direta entre este grupo e a população pobre e, ao mesmo tempo, a sensação de um poder ilimitado a ser gozado por este grupo em relação a tudo que a população pobre tem: seu trabalho, seu voto e sua sexualidade.
       2. Pela organização do mercado local. As atividades econômicas na região apresentam poucas oportunidades para a população local, com exceção do mercado de sexo que está presente, vinculado a todas as atividades econômicas (construção, transporte, mineração etc.) e que se organiza fora da lei (oficialmente proibido como mercado), dando margem a todos os tipos de exploração sem a devida proteção e intervenção do Estado. Este mercado tem valorizado a “juventude” e encontrado formas de aliciar e estimular a entrada de adolescentes e crianças.
        3. A impunidade de exploradores sexuais (o que tem a ver com o poder que gozam dentro da sociedade) estimula a atuação de exploradores e aumentam a vulnerabilidade e impotência dos explorados.
       4. As campanhas e intervenções que confundem exploração sexual de crianças e adolescentes com pedofilia têm livrado o abuso e a exploração sexual vinculados ao exercício abusivo de poder para discutir distúrbios sexuais de alguns abusadores.
        A prostituição forçada de mulheres (forçando a sua entrada involuntária ou impedindo sua saída da atividade) na Amazônia também é favorecida pela organização do mercado de sexo através de aviamento. Em outras palavras, essa escravidão é favorecida pela dívida e pelo isolamento dos lugares de trabalho, vinculados a garimpos, pelas novas construções, fazendas etc. As dimensões amazônicas e a ausência de controle do Estado, em muitos lugares e atividades econômicas, favorecem os empresários do mercado de sexo para explorar prostitutas e prostitutos.
        IHU On-Line – Quais são as rotas internacionais do tráfico de mulheres?
       Marcel Hazeu – Através de pesquisas que foram realizados pela rede Txai e pela ONG Só Direitos (pestraf Amazônia; tráfico de mulheres do Brasil e da República Dominicana para o Suriname; Mulheres em Movimento), e outras fontes, identificamos algumas rotas que, pela dinâmica do mercado internacional, podem já ter se reconfigurado, mas provavelmente ainda tem algum significado. A reconfiguração significa que o formato de migração e de relações análogas à escravidão podem ter diminuído de significância, uma vez que as comunidades brasileiras naqueles lugares se estabeleceram e se fortaleceram. Portanto, as rotas são Amazônia-Suriname; Amazônia-Espanha; Amazônia-Portugal; Amazônia-Guiana Francesa; Amazônia-Venezuela/Caribe. Além dessas, existem as rotas internas para lugares de novos investimentos em função das hidrelétricas em construção, por exemplo.
       IHU On-Line – Você elaborou um estudo sobre o Tráfico de Mulheres do Brasil e da República Dominicana para o Suriname. O que evidenciou com essa pesquisa?
        Marcel Hazeu – Este estudo foi o resultado de um trabalho em equipe e com participação de várias organizações, coordenado por mim e por Lucia Isabel Silva.
       Muitas das mulheres traficadas que contatamos passaram por uma primeira experiência de tráfico quando foram “empregadas” como trabalhadoras domésticas infanto-juvenis.
       Quase todas tiveram filhos na adolescência sem poder contar com apoio dos pais das crianças, e buscavam oportunidade de sustentar e estruturar a sua vida com filhos, o que parecia quase impossível no Pará (pela pouca escolaridade e falta de mercado de trabalho). Essa situação as vulnerabilizou para aceitarem convites que respondiam aos seus anseios.
         Nenhuma das mulheres entrevistadas conseguiu mudar de vida em Belém e alcançar a sonhada independência e estruturação. Mesmo depois de vários anos, vivenciando inicialmente a realidade de escravidão, depois a vivência do garimpo, um “amigamento” ou prostituição mais independente, não alcançaram perspectivas concretas de mudança.
       Esta mudança parecia somente possível através de um relacionamento com um homem (brasileiro, surinamês ou outro estrangeiro) que oferecesse melhores condições de vida. Este movimento para independência através de migração se tornou, para elas, uma dependência inicialmente de traficantes de pessoas e, posteriormente, de homens parceiros.
        A prostituição no Suriname se organiza através de várias lógicas: clubes fechados, onde trabalham principalmente brasileiras e dominicanas; em discotecas e festas onde atuam brasileiras e surinamesas, que se misturam com os frequentadores; casas de massagem com presença dominante de surinamesas; via jornais e nos clubes no garimpo. O tráfico se organizava principalmente vinculado à prostituição nos clubes.
        IHU On-Line – Qual é o significado da mulher na sociedade amazônica?
        Marcel Hazeu – É uma pergunta à qual sinto dificuldade de responder. Não existe “a mulher” e sim mulheres amazônicas, desde guerreiras até escravizadas. Conta-se com um dos mais altos percentuais de mulheres-chefes de família, forte presença de mulheres líderes de lutas sociais; há muitas mulheres que encaram sozinhas a migração. Muitas têm identidades indígenas, quilombolas, ribeirinhas, pescadoras, rurais e urbanas; o significado é sempre múltiplo.
        Elas significam a mãe terra, quando pensamos na sua relação com a natureza abundante e seu vínculo com a vida e reprodução; elas significam a identidade amazônica desde a sua origem lendária até sua luta pela permanência e vivência com qualidade na região; elas significam o futuro da Amazônia, porque não abandonam seus filhos e procuram preservar as condições para seu futuro.
        IHU On-Line – Como a população se comporta em relação à exploração de mulheres na região?
       Marcel Hazeu – Como há uma confusão de compreensão sobre o mercado de sexo, tráfico de pessoas e exploração sexual, a população em geral não reprime a busca de oportunidades de mulheres através do mercado de sexo. Há um pacto silencioso de reprovação moral e aceitação prática ao mesmo tempo. As pessoas se pronunciam somente em casos concretos de denúncias de escravidão e assassinato vinculados ao mercado de sexo. Também se mobilizam para o enfrentamento à exploração sexual de crianças e adolescentes.
        IHU On-Line – Como avalia a atuação dos órgãos de direitos humanos no país em relação ao turismo sexual?
       Marcel Hazeu – Entendo o turismo sexual como atividade criminosa vinculada à exploração sexual de crianças e adolescentes. Turistas que vêm em busca de sexo com brasileiras e brasileiros adultos, que são profissionais de sexo, não são exploradores. Aqueles que vêm em busca de sexo com adultos, que não são profissionais de sexo, e que as abordam e procuram para explorar a situação de vulnerabilidade e pobreza para satisfazer seus desejos sexuais se movimentam num espaço crítico para uma intervenção.
       A atuação dos órgãos de direitos humanos tem levado a uma intervenção generalizada contra qualquer forma de relações sexuais entre turistas e brasileiros, inclusive aquelas que envolvem profissionais de sexo. Assim dificulta o exercício da prostituição “legítima”.
       As campanhas contra exploração sexual de crianças e adolescentes vinculadas à atividade turística têm gerado um efeito bastante positivo, envolvendo o setor hoteleiro e de diversão. Falta, entretanto, um trabalho de esclarecimento e de prevenção com homens e mulheres que sonham com as oportunidades através de uma relação com um turista e que sofrem, muitas vezes, com as falsas perspectivas apresentadas por estes.
Para ler mais:
FONTE:

A cruel honestidade do presidente do IBAMA | BRASIL de FATO

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Presidente do Ibama assume Belo Monte e afirma que não é seu papel cuidar do meio ambiente | BRASIL de FATO

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Morosidade em demarcar terras indígenas é principal causa de violência



          Constatação foi feita durante o lançamento do Relatório de Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil realizado semana passada em Rondônia

         O auditório da Cúria Arquidiocesana de Porto Velho, em Rondônia, recebeu no último dia 14, diversos convidados para o lançamento da publicação Relatório de Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil – dados de 2010. A publicação, que é organizada pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), traz dados alarmantes sobre as violações de direitos de que são vitimas os indígenas do país.
         Somente em 2010, 92 crianças morreram por falta de cuidados médicos ou condições adequadas de saúde da mãe na hora do parto. 60 indígenas foram assassinados, outros 152 ameaçados de morte. Mais de 42 mil sofreram pela falta de assistência à saúde e à educação, entre outras. Foram registrados 33 casos de invasões possessórias e exploração ilegal de recursos naturais disponíveis em terras indígenas.
         Irmã Emília Altini, coordenadora do Regional Rondônia do Cimi, ressaltou que o carisma da entidade está explícito no anúncio, no testemunho, no apoio aos povos indígenas e na denúncia no que diz respeito à negação dos direitos e de qualquer violência que fere a vida dos povos. De acordo com a missionária, a principal causa de tais violações é a morosidade e omissão do governo diante da demarcação das terras indígenas. “O pano de fundo das violências cometidas contra os povos indígenas, bem como a violação dos seus direitos é o desrespeito à demarcação de suas terras e a morosidade dos órgãos públicos na regularização de seus territórios”, destacou.
         Das mais de 300 terras indígenas sem providência em nível nacional, 24 estão no em Rondônia. No estado, vivem hoje cerca de 54 povos indígenas, além dos 15 em situação de isolamento e risco de extinção. Cinco destes povos, inclusive, ameaçados pelas obras do Complexo do Madeira. Isto leva a afirmar que mais da metade dos povos indígenas de Rondônia estão fora de seu território tradicional e aguardando há anos que a Fundação Nacional do Índio (Funai) e os órgãos responsáveis dêem início ao processo de reconhecimento dessas áreas.
         Ainda de acordo com Emília, a luta pela terra é a chave da violência e da criminalização de lideranças indígenas. As políticas públicas não funcionam, embora esteja garantida no papel. A criminalização das lideranças indígenas, a omissão do poder público, a desassistência à saúde e à educação, também são fatores que geram as violações dos direitos das populações indígenas. “A situação de violência dos povos indígenas é fruto da definição da política do governo, que privilegia interesses econômicos e políticos específicos e um modelo desenvolvimentista em detrimento à garantia de direitos”, afirmou Emília.
         Para a missionária, a atuação do Cimi vem na contramão dessas escolhas. Nesse sentindo, de acordo com ela, o Relatório denuncia as violências contra os povos indígenas, que são fruto de uma ideologia diametralmente oposta ao projeto de vida dos indígenas, o que é plenamente defendido pela entidade. As violências são, portanto, fruto da ideologia do desenvolvimento a qualquer preço, da expansão contínua, da maximização do lucro, que é, por natureza, predatória e injusta.
Sejamos comparsas
         Presente no lançamento, dom Moacyr Grechi, Arcebispo de Porto Velho, reafirmou as falas de Emília ao ressaltar que as violências contra os povos indígenas são frutos de uma ideologia que vai na contramão do projeto de vida destes povos. Para ele, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) invade, ocupa e destrói implacavelmente as terras, as comunidades e as vidas indígenas. “Quanto desprezo, quanta descriminação!, como disse Dom Erwin no prefácio deste livro. É a instituição de um novo ‘apartheid’, uma premeditada violação da Magna Carta do Brasil”, afirmou o arcebispo.
         Para dom Moacyr, ainda que as cruzes continuem erguidas, a devoção ao deus dinheiro e a falta de segurança na garantia da terra são as razões principais para esta agressão contínua aos povos indígenas. No entanto, o arcebispo, enfatiza a força e esperança destes povos, que apesar desse assombroso quadro de violências, continuam sorrindo e lutando. “Não devemos ter medo, o medo é a falta de esperança, é o diabo, e só vem para nos atrapalhar. Devemos ter fé e esperança. Sejamos todos comparsas dos que lutam por um Brasil para todos, e não apenas para alguns mais favorecidos”, disse.
Tudo continua igual
        Já dom Antônio Possamai, responsável pelas Pastorais Sociais da CNBB no Regional Noroeste, o convite para participar do lançamento lhe fez pensar que este processo de eliminação dos povos originários do continente americano foi inaugurado há mais de 500 anos. “Que bom seria se nos reuníssemos para festejar uma conquista de 500 anos de respeito pela vida, dignidade, cultura destes povos! Desde aquele tempo, os povos indígenas eram considerados ‘não gente’. De lá para cá não houve muito progresso. Até recentes anos tivemos governantes que proclamaram um projeto de governo de ocupação dessas terras ‘sem gente’”, assinalou dom Antônio.
         Dom Antônio também endossou as falas de Emília e dom Moacyr, ao afirmar que as escolhas do governo não prioriza os direitos, mas o avançar em programas de progresso acelerado, como o PAC. Projetos que, de acordo com ele, passam por cima de tudo, destruindo povos, culturas e territórios para dar lugar ao lucro e ao acúmulo de capital. “Vivemos um tempo de esquecimento ou até de desprezo de tradições, esquecem-se valores, culturas e tradições. Há, entretanto uma tradição que não é desprezada: vem das capitanias hereditárias, passou pelo tempo da cana de açúcar, da mineração, do gado, da seringa, do etanol, da soja e dos grandes latifúndios, com suas cercas e pistoleiros. Desse tempo até aqui, nada mudou. As vítimas continuam as mesmas: os indígenas, camponeses, quilombolas, pequenos agricultores, trabalhadores, empobrecidos e marginalizados, porque, dizem, atrapalham o ‘progresso’”, concluiu.

Esse governo é uma vergonha

          O presidente da Comissão Indígena de Rondônia, Antenor Karitiana citou que os direitos dos povos indígenas estão sendo negados: não têm escolas, não têm postos de saúde, têm que tomar água suja, pois seus rios estão contaminados. “Nossas escolas não estão regularizadas, muito menos valoram a nossa cultura. Está sendo negado o direito de ter tratamento de saúde digna”, desabafou. Antenor alerta ainda que a violência contra os povos indígenas é intermitente. “Ela não aconteceu só no passado, ainda é presente pela descriminação, invasão de nossas terras, pela construção de grandes empreendimentos que impactam diretamente nossas comunidades, pela busca desenfreada de lucro. A terra é nossa fonte da vida. Nós consideramos a terra mais importante, ela está acima de tudo e não o dinheiro”.
         Para Antenor, o governo não os representa, pelo contrário, os causa vergonha. “Hoje os índios estão tentando sobreviver. O governo não nos ensinou a falar o idioma e a comer a comida do ‘homem branco’. Ele está fazendo alguma coisa apenas pela pressão do movimento indígena. Os povos indígenas, principalmente no estado de Rondônia, estão vivendo sem condições dignas, em trabalho escravo. O governo está brincando conosco. Não esperamos pelo governo, nossa luta tem que ser unificada, fortalecida e essa é minha esperança. Os companheiros, os nossos aliados sempre nos ajudaram”, disse.

Povos Indígenas Isolados
         Aproveitando o momento, o Cimi reforçou o lançamento do livro “Os povos indígenas isolados da Amazônia – A luta pela sobrevivência”, destacando que há 127 povos livres na América do Sul, dos quais 90 destes estão no Brasil, sendo 15 no estado de Rondônia. Povos estes que vêm sendo ameaçados e massacrados a risco de extinção pelos projetos econômicos e o agronegócio.

Estes povos são vítimas invisíveis à nossa sociedade. Nas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, cinco povos indígenas livres estão sofrendo os impactos dessas obras desastrosas. Caso o governo mantenha o plano de construção da hidrelétrica de Cachoeira do Ribeirão, mais dois povos indígenas livres serão impactados. Com a construção da hidrelétrica do Tabajara no rio Machado, em Ji-Paraná, mais três povos terrão seu território tradicional impactado. As Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) no Cascata,  rio Machado (em Chupinguaia) e rio Branco (em Alta Floresta) estão sendo construídas em cima de cemitérios indígenas.

“O Cimi, com este relatório, quer mais uma vez afirmar seu compromisso com os povos indígenas do Brasil quanto à defesa de sua dignidade e de seus direitos inalienáveis e sagrados”, afirmou Emília ao encerrar a cerimônia. Ela ainda agradeceu a presença de dom Moacyr e dom Antônio, bem como de representantes da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Movimento de Atingidos por Barragens (MAB), Instituto Madeira Vivo, Faculdade Católica de Rondônia e Universidade Federal de Rondônia.
Fonte:
Jirau hoje, Belo Monte amanhã – Relatório aponta violações em Jirau e prevê repetição em Belo Monte


         Além das violações trabalhistas denunciadas na construção da Hidrelétrica no Madeira, em Porto Velho o índice de migração foi 22% maior que o previsto, os casos de estupro aumentaram em 208% e quase 200 crianças permanecem fora da escola apenas em uma das vilas. Os dados estão no Relatório sobre Jirau, que será lançado nessa semana em Brasília. A maior preocupação é que violações desse tipo tendem a se repetir em Belo Monte.
          Dois meses após a revolta dos operários na usina de Jirau, em Porto Velho, a Relatoria Nacional para o Direito Humano ao Meio Ambiente entrega nessa semana à autoridades em Brasília, o relatório que aponta inúmeras violações aos direitos humanos na obra. Além do desrespeito à legislação trabalhista e das violações de direitos humanos encontradas (leia mais), a relatoria constatou que a infraestrutura montada pelos consórcios para a obra é insuficiente. Resultado disso é que centenas de crianças estão fora da sala de aula, a qualidade de vida das comunidades piorou, houve aumento expressivo nos índices de violência, incluindo as ocorrências de estupro, que aumentaram em 208%.
O relatório é resultado de uma missão emergencial realizada em abril, motivada pelo levante dos operários que incendiaram 54 ônibus e 70% dos alojamentos. Apenas na usina de Jirau eram 21 mil trabalhadores compartilhando alojamentos, denunciando surtos de viroses, jornada excessiva de trabalho e outras más condições que a magnitude e a pressa em acabar a obra ocasionaram. As comunidades realocadas reclamam da piora na qualidade de vida: estão em casas de alvenaria de má qualidade, longe de suas terras, onde plantavam e colhiam, e do rio, onde pescavam. Elas afirmam que a renda hoje é muito inferior ao que recebiam antes.
Segundo o Relator para o Direito Humano ao Meio Ambiente, José Guilherme Zagallo, as conseqüências das obras do Madeira constatadas pela relatoria tendem a se repetir em Belo Monte em uma escala ainda maior. A Relatoria já havia realizado uma missão no Madeira em 2008 e também esteve em Belo Monte no ano passado. Na opinião de Zagallo, o Pará, assim como Rondônia, não possui estrutura para receber esse contingente de trabalhadores e migrantes, o que acarretará em mais violações. “O estudo de impacto ambiental de Belo Monte prevê que a população de Altamira vai duplicar com a construção da usina”, afirma o relator.
Na avaliação da Relatoria o Estado Brasileiro não está preparado para essas grandes obras. “Em uma única semana, em março, 80 mil trabalhadores de obras diferentes estavam em greve por más condições de trabalho. Só em Jirau e Santo Antonio, o Ministério do Trabalho fez 2.000 autuações por violações à legislação trabalhista”, afirma o Relator. Tanto as usinas no Rio Madeira como a usina de Belo Monte, no Rio Xingu, são obras de envergadura do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), financiadas com recursos públicos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
A Relatoria pretende mobilizar autoridades para que o Governo Brasileiro tome as medidas cabíveis que reparem as violações constatadas e evitem novas violações.
Saiba mais sobre a Relatoria:
         As Relatorias de Direitos Humanos são uma iniciativa da sociedade civil brasileira, que têm como objetivo contribuir para que o Brasil adote um padrão de respeito aos direitos humanos econômicos, sociais, culturais e ambientais. O projeto foi implantado pela rede Dhesca Brasil em 2002, inspirado no modelo dos Relatores Especiais da ONU.
         O desafio dos/as Relatores/as é o de diagnosticar, relatar e recomendar soluções para violações apontadas pela sociedade civil. Para verificar as denúncias acolhidas, as Relatorias visitam os locais realizando missões, audiências públicas, incidências junto aos poderes públicos e publicam relatórios com recomendações para a superação dos problemas identificados.



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FONTE:

Xingu Vivo » À Margem do Xingu – Vozes não consideradas

Xingu Vivo » À Margem do Xingu – Vozes não consideradas
Amazônia pode perder cinco cidades de SP em um ano, prevê Imazon

          Desmate entre agosto de 2011 e julho de 2012 pode alcançar 7.134 km². Modelo de previsão se baseia no atual ritmo de devastação do bioma.
         Se o atual ritmo de desmatamento na Amazônia Legal não for freado com ações de fiscalização e combate, o bioma pode perder 7.134 km² em vegetação no período entre agosto de 2011 e julho de 2012, segundo previsão da organização ambiental brasileira Imazon.
        Caso isto se concretize, a floresta perderia uma área equivalente a quase cinco vezes o tamanho da cidade de São Paulo ou seis vezes o tamanho da cidade do Rio de Janeiro.
        Além disso, a destruição anual da floresta terá sido 10,5% maior se comparada à última medição feita pelo sistema Prodes, método empregado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) para avaliar a derrubada da floresta em 12 meses, que registrou entre agosto de 2009 e julho de 2010 desmatamento de 6.451 km². Os dados são utilizados pelo governo federal como índice oficial de degradação da Amazônia Legal.
        O levantamento do Imazon foi feito com base em dados registrados pela instituição, captados via satélite, e que são divulgados mensalmente. Estes números foram adicionados a um modelo estatístico criado em computador, que determinou a previsão. Ainda de acordo com o Imazon, o estado do Pará é o que mais poderá concentrar locais com alto risco de desmatamento (72%), seguido do Mato Grosso (11%).
Localização
        Segundo Márcio Sales, estatístico e pesquisador da organização ambiental, o foco deste modelo não era somente prever o aumento no corte de árvores (já registrado pelo governo federal no bimestre março-abril de 2011 e que resultou em providências urgentes para reduzir os índices de desmatamento).
         “O modelo foi criado para analisar onde essa devastação vai acontecer, com um raio de alcance de 5 km. As chances de acerto são de 80%. Nossa intenção é criar um sistema de combate que faça o alerta antes do desmatamento acontecer”, afirmou Sales.


Foto: Editoria de Arte/G1)
        Entre as localidades que poderão concentrar as ocorrências mais graves de crime ambiental estão as estradas federais que cortam o bioma, como o rodovia BR-230 (Transamazônica), na região da Terra do Meio (PA) e ao longo da BR-163 (rodovia Cuiabá-Santarém). Outras regiões de concentração estão no nordeste do Pará, nos municípios próximos a Paragominas, sudeste e sudoeste do Acre, norte de Rondônia e no noroeste e centro do Mato Grosso.
          “Não sabemos o real motivo do desmatamento, mas localidades do Pará como Pacajá, Altamira, São Félix do Xingu e Novo Repartimento poderão ser as grandes responsáveis pelo desmatamento”, afirmou Sales. Dados do levantamento do Imazon mostram que as quatro cidades juntas podem desmatar ao menos 684 km².

Oficial
         Em maio, o Inpe, ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, identificou na Amazônia Legal 267,9 km² de desmatamento em diversos estágios - número 44% menor que em abril de 2001 e 144% maior que em maio de 2010.
        A área equivale a 166 vezes a extensão do Parque Ibirapuera, em São Paulo, ou mais de quatro vezes o Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro. Mato Grosso lidera o desmatamento em maio, seguido de Rondônia (com 67,9 km²), Pará (65,5 km²) e Amazonas (29,7 km²).
FONTE:

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Retrocesso no Código Florestal: Proteste contra esta ideia

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MPF/SC denuncia dois proprietários rurais por trabalho escravo infantil | Portal EcoDebate

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A dependência do corpo animal com relação ao da biomassa, artigo de Antonio Germano Gomes Pinto | Portal EcoDebate

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Abolicionista fez 3 palestras nesta sexta-feira em São Sebastião do Caí

          O Instituto Estadual de Educação Paulo Freire, na cidade de São Sebstião do Caí, a 60 quilômetros de Porto Alegre, recebe integrantes da Vanguarda Abolicionista para uma seqüência de três palestras na tarde desta sexta-feira, 15 de julho. Os ativistas Fernando Schell e Priscila Hermann vão falar sobre tópicos da libertação animal e da problemática dos animais de rua para turmas do curso de Magistério. Será exibida parte do documentário 'Terráqueos', e serão entregues ao público kits com materiais impressos e um DVD com vídeos da causa animalista.
         Com entrada franca, as palestras começam às 13h e terão duação de 40 minutos, com espaço para perguntas e debate. A atividade integra um calendário permanente de palestras que a Vanguarda Abolicionista começou a ministrar no ano passado, para crianças, jovens, adultos e terceira idade.
FONTE:

WSPA capacita mais 80 professores do Ensino Fundamental e Médio para a Educação Humanitária em Bem-Estar Animal

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Vida em cativeiro
Estudo revela o desconhecimento acerca do sofrimento dos golfinhos explorados em aquários

Foto: Anima/Naturalis

         Uma pesquisa realizada na Espanha em abril deste ano, por Ipsos a pedido da One Voice, uma organização francesa, e FAADA – Fundação para o Adoção, Apadrinhamento e Defesa dos Animais -, revela que os espanhóis pouco sabem a respeito dos golfinhos e aquários. Apesar das pessoas acreditarem que não é o melhor lugar para que vivam, a Espanha é o país com maior número de aquários da Europa. O turismo tem um papel importante para isso, segundo informa a ONG AnimaNaturalis em seu site.
        Apesar de a maioria pensar que os espetáculos e o barulho dos espectadores estressam os animais (77%) e que os golfinhos ficam deprimidos nesse tipo de local (63%), assim como viver em cativeiro aumenta a taxa de mortalidade desses animais (57%), poucos sabem que os golfinhos têm graves problemas de depressão que chegam inclusive a automutilar-se e a suicidar-se (45%) e que para que realizem acrobacias durante o espetáculo, lhes é privado alimento para que o façam por fome (51%).
        Apesar  de 56% dos espanhóis acreditarem que os aquários têm fatores pedagógicos, de acordo com um estudo ralizado pela FAADA sobre os espetáculos em diversos aquários, demonstra que o tempo de espetáculo destinado a oferecer uma mensagem educativa é quase nulo. 68% dos espanhóis acreditam que os aquários não contribuem à compreensão da maneira como vivem os golfinhos na natureza.
       Quando se trata de posicionar-se  respeito da captura dos golfinhos, 77% dos espanhóis diz ser contra e 92% é a favor da proibição de caça e reclusão desses animais.
       Tais resultados mostram a necessidade de informar a sociedade a respeito da vida desses animais em cativeiro e mudar a percepção de “animais simpáticos”, que oculta as condições de vida muito estressantes nos tanques e uma mortalidade muito elevada em cativeiro.
        A expressão facial que os golfinhos apresentam, assemelha-se a um sorriso, o que leva as pessoas a antropomorfizarem esses animais, interpretando como um sorriso de fato, o que dá a impressão de que os golfinhos são felizes nos aquários. Os resultados refletem essa percepção, que mostra que 46% dos espanhóis acreditam que os golfinhos são realmente felizes em cativeiro. Ainda que 87% dos entrevistados acreditam que esses animais são mais felizes em liberdade.
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