Proteção
Animal: dos fofismos aos radicalismos
Imagem: Dana Ellyn
por Swami
Fonseca
Bióloga,
professora e acadêmica de Medicina Veterinária
“Prefiro bicho do que gente”. Essa
é uma expressão da vala comum quando se perde a fé no ser humano e perigosa
quando dita pelos adeptos/simpatizantes da proteção animal que por vezes assume
a identidade de uma seita. Por que não existe “proteção animal” sem gente. Se
quisermos uma humanidade melhor, não podemos deixar de incluir o grande sujeito
de transformação que é o ser humano. Ele pode viver sob o mesmo teto, passar
por você todos os dias na rua ou sentar ao seu lado numa sala de espera.
Obviamente existem pessoas más e boas, mas quando se é bom ou mau se é com todo
mundo. Mas o ideal é ser bom com todos na tentativa contundente de eliminar o
germe especista ( especismo: significa fazer uso de outras espécies consideradas
inferiores em proveito da sua considerada superior ). Porque na escola desde
bem pequenos obedecendo a um processo de formatação cultural, nos é ensinado
que todas as espécies devem estar subordinadas a nossa. Nessa lógica doentia é
semeado que todos os seres pertencem ao nosso domínio, por isso acredita-se que
comer e vestir animais é algo trivial. Eis que finalmente é celebrado o litígio
entre o humano e o animal e fertilizada a crise da nossa civilização do consumo
contra a natureza.
Mas nesse enredo cruel vem à tona o
famigerado “fofismo”, expressão a qual uso ao exagero de afeto por alguns
animais, principalmente cães e gatos, aqueles criados bem pertinho de nós. E por que faço essa provocação? Justamente porque outros animais são deixados
de lado, como os ditos de produção: o porco, a cabra, o carneiro etc. Animais
que seguem a sina do esquecimento e a sua importância se resumem ao prato como
alimento. Para estes não cabe um olhar, um carinho ou piedade porque seu
destino é o abate. Justamente porque também em nossa sociedade os animais são
escolhidos para serem nossa companhia, nosso alimento ou diversão. Para aqueles
animais a “proteção animal de cão e gato” não quer assumir a sua proteção. Pois
como ficaria o churrasco de final de semana, o bife de todos os dias, a pizza
de bolonhesa e também as compras de revistas cujos cosméticos são testados em
animais. Bem como os xampus e cremes de beleza de marcas famosas que também são
testados nas cobaias esquecidas e silenciosas. Aos que se dizem protetores que
me perdoem! Mas proteção animal vai muito além de hábitos que se quer são questionados
no nosso cotidiano. Pode ser questão de radicalismo, mas quem assume e veste a
camiseta pelos animais também vai ter que mudar e se comprometer com as
mudanças em curso. Amar uns e consumir outros animais não é digno de quem se
diz protetor dos animais. Por isso devemos avançar nesse debate que é ético,
político e educador para radicalizar e revolucionar a proteção dos animais, não
somente a eles, mas ao planeta que está entrando em colapso com tanto
desmatamento e poluições pelo modo de produzir, consumir e viver loucamente. Radicalize seu viver pela vida no
planeta.